São Paulo, quarta-feira, 15 de junho de 1994
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Entra o neofacista

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Entra o neofascista
Jô Soares criou um monstro. Enéas continua engraçado, um bufão, com as piadas sobre o tempo, a barba, a careca. Mas um bufão que lembra outro –e que procura embarcar na onda nacionalista que anda elegendo neofascistas, na Europa. No Onze e Meia, assustou Jô Soares em mais de um discurso. Um dos exemplos:
"Imagine que se faça um movimento cívico de soerguimento do vernáculo, para acabar com a vergonha nacional do desrespeito à língua pátria.
"Imagine ainda mais, que nas escolas, públicas ou privadas, seja obrigatório que se cante o hino nacional.
"Imagine que se comece de novo a instilar, nas crianças, o valor do civismo.
"Imagine que a criança se levante para a bandeira.
"Imagine que a gente consiga criar uma geração de jovens, todos irmanados, todos filhos da mesma pátria.
"Isso é um modelo..."
Corta Jô Soares:
"Enéas, deixa eu perguntar uma coisa. Não fica um projeto meio totalitarista?"
"Esqueça essa palavra. Esqueça essa palavra."
"É uma ordem?"
Risos e risos, como se fosse brincadeira. Outra passagem, supostamente engraçada, quando Enéas apontava na platéia o seu "grupo":
"À direita da deputada está o almirante Gama e Silva (vice). Mais à direita está o professor Marcos Coimbra, professor da Escola Superior de Guerra. (...) À direita dela está um coronel aviador, o coronel Santoro, da ativa, mas que já está licenciado para concorrer."
Corta Jô Soares:
"Da ativa?"
"Bem à direita tem um brigadeiro da Aeronáutica, que é aquele senhor ali."
"Da ativa, também?"
"Não, está reformado. Mais à direita, na segunda..."
"Quer dizer, você já tem um ministério aqui. Tem a Aeronáutica, a Marinha. Só está faltando o Exército."
Risos e risos. Mas Enéas aumentou o discurso neofascista –até que o apresentador não aguentou e reagiu:
"Enéas, você me desculpe. Eu fui a primeira pessoa a abrir espaço para você (em 1989). Eu gosto muito de você. Acho você uma pessoa muito interessante. Mas não posso deixar de sentir um certo, desculpe a palavra, autoritarismo."
Enéas, em cima: "Sem isso não se endireita o Brasil."
Risos e risos. Também palmas, muitas palmas.

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