São Paulo, quarta-feira, 15 de junho de 1994 |
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Esquemas buscam preencher espaços
MARCELO DAMATO
Em cerca de cem anos, os atacantes passaram de cinco para dois ou um e os defensores, de dois para quatro ou cinco. Desde os anos 70, a marcação é intensa em pelo menos meio campo. No início da história do futebol, no século passado, havia o caos. Ninguém tinha posição –o goleiro nem existia– e todos queriam atacar. Só mais tarde, os times começaram a se organizar. O primeiro esquema a se consagrar foi o 2-3-5 –dois "backs" defensores, três "halfs" (meias) e cinco "forwards"(atacantes). Durou meio século, com variantes. Em seguida, os ingleses criaram o WM, uma modelo rígido dos esquemas anteriores. No anos 40, o futebol brasileiro trocou o WM por um esquema original, a diagonal. Criação de Flávio Costa, técnico do Vasco e da seleção na Copa de 50, a diagonal exigia uma opção: atacar preferencialmente por um lado. A seleção sofreu com isso. Costa usou o seu time, que atacava pela direita, como base para a seleção e deixou de lado jogadores adaptados ao outro esquema. O fracasso na Copa de 50 abriu espaço para o 4-2-4. O esquema transformou o half recuado e o zagueiro avançado em laterais, recuou o half adiantado para a defesa –daí surgiu o nome "quarto-zagueiro"– e transformou um atacante em meia. O 4-2-4 fez mais sucesso no Brasil do que na Europa. Lá ele logo foi trocado pelo 4-3-3, um esquema mais cauteloso em que se recuava um atacante para o meio. A tradição do 4-2-4 criou problemas para a consolidação do 4-3-3 no Brasil, com algumas exceções como a seleção das Copas de 58 e 62. O país estava acostumado tanto com os dois pontas ofensivos quanto com a então chamada "dupla de área", ponta-de-lança e centroavante, cujo símbolo foi o duo Pelé e Coutinho no Santos do início e meados dos anos 60. Na Copa de 74, a tradição do futebol foi abalada. O esquema da seleção holandesa não se baseava na distribuição dos jogadores em campo, mas na sincronia do movimento deles. Em vez de cada jogador ocupar o seu espaço, o time ocupava todos os espaços, de várias formas diferentes, tanto na defesa quanto no ataque. Essa estratégia exigia maior concentração e capacidade de decisão dos jogadores, mas dava um volume de jogo maior. O esquema nunca mais foi repetido, mas suas lições foram aprendidas. Junto a isso, a filosofia de ocupar o meio-campo continuou. Hoje, existem duas grandes correntes táticas. A mais ofensiva usa os laterais para o ataque e o apoio e tenta preservar o máximo de atacantes (3-5-2 e 4-4-2). Defende um misto das escolas sul-americana e holandesa. A outra, defensiva (5-3-2 e 5-4-1), pôs cinco jogadores na defesa e acena com o fim dos atacantes. O vencedor desta Copa vai ter peso no futuro do futebol. (Marcelo Damato) Texto Anterior: RODÍZIO EM CAMPO Próximo Texto: Regras mudam pouco em 120 anos Índice |
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