São Paulo, quarta-feira, 15 de junho de 1994 |
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Peter Arnett conta sua experiência como correspondente em 17 guerras
FERNANDA DA ESCÓSSIA
"Ao Vivo do Campo de Batalha - do Vietnã a Bagdá, 35 Anos em Zonas de Combate em Todo o Mundo" chega esta semana ao Brasil, lançado pela Rocco. Em todo o livro, o primeiro mandamento de Arnett para um correspondente de guerra: confiança na importância do que faz. "O correspondente tem que acreditar que o que ele faz vale os riscos e esforços e é mais importante que todas as regras locais". Arnett afirma que o correspondente também tem que ser o que os americanos chamam de "não-ideológico" –não tomar partido nunca, diz ele, e deixar as informações entrarem na sua cabeça. A terceira atitude do correspondente, para Arnett, é manter-se informado, ler sempre e sobre todos os assuntos. "É preciso saber de tudo, e até ser diplomata de vez em quando." O repórter guarda lembranças especiais de duas guerras: a do Vietnã, em que era correspondente da AP (Associated Press), e a do Golfo, quando ficou conhecido no mundo inteiro como correspondente da CNN (Cable News Network) –emissora de TV a cabo dos EUA especializada em notícias. Ele conta que a guerra do Vietnã foi difícil, porque a guerra era mal vista pelos americanos. "A guerra era considerada perdida, e os repórteres eram afetados". Arnett passou dez anos como correspondente na guerra do Vietnã. Ele e outros repórteres americanos corriam risco, diz ele, porque ficavam no campo de batalha, junto com as tropas americanas. "A Guerra do Golfo foi a mais espetacular". Ele lembra que os mísseis americanos caíam perto do hotel dos jornalistas em Bagdá. O jornalista diz que a guerra do Golfo foi diferente de todas as outras, por dois motivos: o envolvimento de toda a comunidade internacional –o que não se verificava desde a Segunda Guerra– e a tecnologia utilizada na cobertura. A CNN tinha dez satélites em vários pontos do Iraque, conta o correspondente. Além disso, unidades móveis de jornalismo permitiam gerar notícias de vários lugares das batalhas. Quando a guerra terminou, Peter Arnett teve mais certeza de que ela fora diferente das outras: tornara-se conhecido no mundo inteiro, depois de 35 anos como correspondente de guerra. "É até bom, porque quando vou hoje à Bósnia todos já me conhecem. A desvantagem é que sempre acham que eu sou louco. Eu acho que sou", afirma. Guerra do Golfo O dia em que a guerra do Golfo começou para o mundo –06 de janeiro de 1991– foi o dia em que Peter Arnett tomou a decisão que mudaria sua vida: ficar em Bagdá durante todo o combate. Ele foi o único jornalista que permaneceu na cidade bombardeada, contrariando as ordens do presidente George Bush para que todos os jornalistas americanos saíssem do local. Ficou, com um cinegrafista "free-lancer" contratado em Bagdá e operando sozinho os equipamentos de geração de notícias. Conseguiu o que parecia impossível: entrevistar Sadam Hussein. "Fiquei porque sabia que ali haveria uma boa história, que o mundo inteiro ia querer saber", conta. Ele diz que "não queriam testemunhas" do que aconteceria em Bagdá. Conta que sofreu censuras das tropas militares americanas e de Sadam Hussein. Procurando boas histórias, ele esteve em quase todas as guerras, desde o Vietnã: Chipre, El Salvador, Afeganistão, até o Golfo. Ganhou um prêmio Pulitzer pela cobertura no Vietnã e outros cinco por outros trabalhos. Conta que foi preso duas vezes, mas nunca chegou a ser ferido. "Vi muitos amigos morrerem perto de mim. Acho que sou um homem de sorte", diz. A maior dificuldade do correspondente, conta, é conciliar a vida profissional com a vida pessoal. Para isso, Peter Arnett, que separou-se depois de um casamento de 20 anos, só tem uma receita: "O correspondente ou desiste do trabalho ou se divorcia". Texto Anterior: Tradutor francês discute na Folha a poesia no mundo contemporâneo Próximo Texto: Legião Urbana conta sua história na MTV Índice |
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