São Paulo, quarta-feira, 15 de junho de 1994
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É bom mandar o Exército às ruas?

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – É uma concorrência macabra. No final de semana passado, uma chacina fez 21 vítimas em São Paulo. E, na madrugada de ontem, outra chacina produziu pelo menos 11 mortes no Rio de Janeiro. Atenção, candidatos.
Os candidatos a governador e a presidente deveriam suspeitar que o país está perdendo o controle da violência urbana devido à sensação de impunidade. Poucos fatos poderiam ser mais tragicamente simbólicos do que o assassinato de dois militantes do PT do Rio, responsáveis pela elaboração de um projeto de segurança para o Estado.
Nos cinco primeiros meses, a região da Grande São Paulo registrou 2.759 assassinatos –quase 25% maior do que no mesmo período do ano anterior. É quase um assassinato por hora. Isso na região mais rica não apenas do Brasil, mas da América Latina.
Somem-se a São Paulo as demais cidades brasileiras, sem o mesmo aparato de segurança e ainda mais miseráveis. O resultado óbvio: um quadro de guerra. São milhares de quadrilhas organizadas e com armamento sofistificado, manejando os milhões de dólares do tráfico de drogas.
Como se não bastasse, há evidências de batalhões de policiais envolvidos com as gangues, atraídos por polpudas propinas, várias vezes mais altas do que seus salários de fome.
A solução eficaz a longo prazo está numa proposta que, até agora, foi melhor sintetizada por Lula: nenhuma criança fora da escola. A curto prazo, é o reaparelhamento das polícias, aumentanto o número de soldados, com melhor treinamento e salários. Um melhor treinamento até para que sejam educados a respeitar os direitos humanos.
Sinto-me forçado a revelar que uma opinião minha está abalada, devido ao aumento descontrolado de assassinatos. Era radicalmente contra a interferência das Forças Armadas na luta contra a crime. Não estou mais tão convicto.
Começo a suspeitar que, acompanhando o esforço de melhoria da polícia, as Forças Armadas devem ser chamadas para num primeiro momento, provisoriamente, evitar que as cidades se transformem de vez em praças de guerra.

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