São Paulo, sábado, 18 de junho de 1994
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Nada, de novo

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Parece coisa armada, isso de começar a campanha do real no mesmo dia em que começa a Copa. Em plena sexta-feira, no final da semana. Dia em que a atenção, na televisão e no país, estava toda no jogo de abertura da Copa. O ministro Rubens Ricupero, que já não tem a mais empolgante das personalidades, apareceu em cadeia nacional de rádio e televisão para um discurso de causar bocejos.
Nada de novo. Parecia repetir alguns pronunciamentos de Fernando Henrique e também dele mesmo, Ricupero. "Não vai haver nenhum choque, nenhuma violência. Ninguém vai mexer na sua poupança e nem congelar nada. Não há confisco, nem ameaças." Não há emoção, parece dizer o ministro –também sem a mínima emoção, ele próprio. Não havia emoção, nem dele e nem de ninguém que viu o discurso.
Parece coisa armada, no dia e no mês da Copa do Mundo, para que ninguém receba com tensão o novo golpe na inflação. "Não há motivo para tirar dinheiro da poupança, para comprar dólar, ou para sair queimando economias." É para tomar como um acontecimento menor, cotidiano, parte de um longo processo iniciado mais de um ano atrás –e que não vai ser este mês que vai acabar, de um só golpe, como antes.
Faz sentido, mas cansa. Cansa desde a primeira vez em que Fernando Henrique discursou prometendo não assustar, não decidir nada sem avisar antes. Os efeitos disso, na televisão, são aberrações da comunicação –como o ministro da Fazenda que usa uma cadeia nacional de televisão para passar e repetir o número do telefone que os telespectadores devem usar, para mais detalhes: "0-800-992345. Repito, 0-800-992345."
História
Em meio à modorra do discurso, uma frase engraçada do ministro Rubens Ricupero: "O presidente Itamar Franco vai entrar para a história do Brasil." Será lembrado, sempre.
Rota
No Globo Repórter, ontem, um elogio rasgado, emocionado aos policiais. Nada contra, até pelo contrário. Afinal, a maioria arrisca a vida pela segurança dos outros, em troca de "baixos salários". Mas vai uma boa distância daí para tomar como amostra –como um exemplo de profissionalismo– a Rota de São Paulo. Logo quando a violência começa a crescer em São Paulo, estragando a imagem do governo.

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