São Paulo, segunda-feira, 20 de junho de 1994
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Nacionalismo

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Tem muita gente no Brasil tirando vantagem da Copa. O nacionalismo crescente, na véspera da estréia do Brasil, serviu até para lançar uma telenovela, das oito, na Globo. O título é "Pátria Minha", com um logotipo todo verde. Lembra a bandeira nacional.
O que começou foi uma campanha de lançamento, buscando abertamente ligar a imagem com a inundação verde-e-amarela da televisão. Ainda é cedo para falar, mas o tom das cenas e o autor, Gilberto Braga, fazem esperar um aumento no rancor patriótico por aí.
Um rancor entre o melodrama e a patriotada, como indica uma frase de um dos personagens da tal "Pátria Minha", na propaganda de ontem: "Ele vai beijar o chão que eu pisei."
Mas quem está mais insistentemente buscando tirar vantagem da Copa do Mundo, ou do nacionalismo em tempos de Copa, é mesmo o monopólio estatal das telecomunicações –nos intervalos, transmissões, mesas-redondas, com locutores, legendas, os comerciais.
Na Bandeirantes, o narrador diz e repete, durante o jogo: "Embratel, uma vitória do talento brasileiro". Na Globo, nada durante as transmissões, mas uma propaganda logo sugere: "Vibre também com os brasileiros da Embratel. Eles estão vencendo por você."
No SBT, uma outra propaganda também garante que "onde tem Brasil tem Telebrás". Com cenas de alta tecnologia: "Suíça, Japão, Estados Unidos? Não. Tudo o que você está vendo é Brasil". Por fim, a mensagem: "Hoje, falar é fácil. Difícil foi fazer".
Uma mensagem que tem como alvo todos os que, na revisão, sonharam com o fim do monopólio das telecomunicações. Que perderam feio e que devem seguir perdendo, pelo que indica o crescendo do nacionalismo. Um crescendo que não vai ceder nem mesmo com derrota.
Extermínio
Enquanto isso, enquanto corre a Copa, o país continua o mesmo. O Rio de Janeiro continua o mesmo. No Jornal da Cultura, ontem:
"Mais uma madrugada violenta no Rio. Duas meninas e um rapaz, com idades entre 12 e 15 anos, foram mortos a tiros. Os corpos foram abandonados perto de uma igreja, na zona norte da cidade. As vítimas ainda não foram identificadas. A polícia suspeita de um grupo de extermínio formado por comerciantes e policiais."

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