São Paulo, segunda-feira, 20 de junho de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Estudos contestam utilidade da Norte-Sul

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

A ferrovia Norte-Sul foi desengavetada pelos candidatos a presidente que cortejam o apoio do senador José Sarney (PMDB-AP).
Mas estudos independentes e do próprio governo contestam a utilidade da obra de 1.580 km, orçada em US$ 2,4 bilhões.
Sarney e seu então ministro dos Transportes, José Reinaldo Tavares, argumentaram que a ferrovia, entre Açailândia (MA) e Luziânia (GO), viabilizaria uma área de 70 milhões de hectares.
Também insistiam -o que, no caso, é incontestável- que a expansão das rodovias criou, já nos anos 50, um preconceito injustificado contra o transporte ferroviário.
Ocorre que a obra foi marcada por escândalos, como a fraude na primeira concorrência, em maio de 1987, revelada, na Folha, pelo colunista Janio de Freitas.
É também objeto de uma ação popular que tramita há sete anos na 21ª Vara da Justiça Federal do Rio de Janeiro.
O consultor em transportes Brasilo Accioly, 68, encarregado da perícia pelos autores da ação, disse anteontem que ninguém sabe ao certo quanto dinheiro público já foi enterrado na ferrovia Norte-Sul.
A Valec, Engenharia e Construções, empresa ligada ao Ministério dos Transportes, negou-se a relacionar os pagamentos já feitos às empreiteiras.
Brasilo Accioly estima que seja uma quantia próxima a US$ 500 milhões. É bastante para os parcos 107 quilômetros do único trecho em funcionamento, na ponta maranhense das linhas e dormentes.
É também uma quantia elevada se comparada aos US$ 18,2 milhões que o atual governo destinou à obra na proposta de Orçamento para 1994.
No capítulo das cifras, é bem mais eloquente a conclusão do Geipol (Empresa Brasileira de Planejamento de Transporte), do Ministério dos Transportes: uma tonelada de grãos transportada pela ferrovia custaria US$ 30.
A mesma tonelada custaria um terço disso se embarcada em chatas no rio Tocantins, que corre paralelo ao traçado da ferrovia Norte-Sul.
O transporte hidroviário foi, aliás, aconselhado pelo Prodiat (Plano de Desenvolvimento da Bacia Araguaia-Tocantins), elaborado no governo de João Baptista Figueiredo.
A Folha tentou, mesmo assim, localizar na sexta-feira à noite o ex-ministro José Reinaldo e o deputado Sarney Filho (PFL-MA), porta-vozes oficiosos do ex-presidente, para colher suas opiniões. Eles não foram encontrados.
José Reinaldo não foi localizado em São Luís (MA) e Sarney Filho não era contatável em Imperatriz (MA), onde estava em campanh eleitoral

Texto Anterior: Governo será mais amplo que PT, diz Lula
Próximo Texto: Método indica se cavalo tem fibra para corrida
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.