São Paulo, segunda-feira, 20 de junho de 1994
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O problema é que a Rússia já não é mistério

ALBERTO HELENA JR.
EM LOS GATOS

Brasil a Rússia têm um caso recente. Isso, claro, medindo-se o tempo pelo tempo da história do futebol, que é quase igual o geológico.
Brasil e Rússia, que não era mais nem ainda voltara a ser Rússia, mas sim a URSS, enfrentaram-se pelo primeira vez, creio, no auge da Guerra Fria, na Copa de 58.
Aliás, seria a primeira Copa dos russos –perdão, soviéticos, então (naquele tempo, se você cometesse a falha de chamar soviético de russo levava um coque na cabeça do primeiro comunista que estivesse à roda).
E eles chegaram à neutra Suécia cercados do mais denso mistério. Dizia-se que, em seus secretos laboratórios, camuflados nos confins dos Urais, desenvolviam uma tecnologia tão sofisticada que nenhum adversário ficaria em pé quando eles começassem a jogar.
Resultado: nenhum russo ou soviético, ou seja lá como queiram denominá-los, ficou em pé quando a bola se aninhava nos pés de Garrincha. Foram-se tecnologia, disciplina e os cambaus pro buraco.
Hoje, a história é outra. Os russos –agora pode-se chamá-los assim sem temor de se levar um coque do primeiro comunista à roda, pois o coque saiu de moda e os comunistas não mais andam à roda–, os russos, dizia eu, já não são mais nenhum mistério.
Na verdade, com o rompimento da cortina, eles ficaram iguaizinhos a nós. Os olhos mais claros, o cabelo da cor de espiga de milho, mas a bagunça é a mesma.
Eis, portanto, o meu temor. Quem pode garantir que tal bagunça não tenha gerado um Garrincha lá deles, hein?
*
Falando sério: hoje, o Brasil estréia nesta Copa, que, até agora, tem sido um tédio. Não só porque os americanos nem estão aí com a tal Copa do Mundo, como também porque duas das quatro grandes potências do futebol deram um vexame na estréia: a Alemanha ganhou da Bolívia por 1 a 0 com a corda no pescoço, e a Itália -pasmem!- perdeu de 1 a 0 da Irlanda, aquela do James Joyce, que é a mais pacata e menos representativa no futebol. Perdeu, e nem sequer foi capaz de criar um lance apenas que levantasse o torcedor da cadeira.
O maior momento foi-nos oferecido por Colombia e Romênia. Um jogaço, de dois times que têm o destino traçado nesta copa: como jogam um futebol bonito, agressivo, alegre, devem dançar rapidamente.
A Romênia, um pouco mais precavida, meteu 3 a 1 na Colombia, toda ataque. Por certo, Zagalo, sorri de orelha a orelha.
*
Mas, voltando a Brasil e Rússia. Prevejo um jogo ranheta, as equipes evitando o erro, o tempo passando, o coração entalado na garganta e um resultado exíguo. Para nós, claro.
Afinal, a Rússia está sem seis titulares, está fazendo um calor medonho neste Vale do Silício e nós temos Romário, que, finalmente, voltou a treinar com bola, e, embora não tenha marcado nenhum gol dos titulares, fez suas graças.
Quem diria que eu acabaria escrevendo isso? São as voltas que a bola dá, gente.

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