São Paulo, segunda-feira, 20 de junho de 1994
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Brasileiros integram passeata

MAURICIO STYCER
ENVIADO A SAN FRANCISCO

Um carro alegórico verde e amarelo, animado por cerca de 20 homossexuais brasileiros, participou ontem da parada comemorativa do Dia da Liberdade das Lésbicas e Gays de San Francisco.
A parada começou às 11h e percorreu a avenida principal de San Francisco, a Market st.
Cerca de 400 mil pessoas, entre integrantes do desfile e espectadores, participaram do evento, segundo os organizadores.
O carro alegórico, chamado de "Birds of Paradise" (Pássaros do Paraíso), seguia atrás de seis homens, que sambavam na avenida.
Os integrantes dessa comissão de frente, os auto-intitulados "golden boys", vestiam apenas uma sunguinha com as cores do arco-íris e um colar de plumas.
"Não basta colocar uma pluma e sair pela avenida dando pinta. É preciso consciência política para participar desta festa", dizia Rafael Campos, 30, fantasiado de tigre.
Arquiteto, há quatro anos fora do Brasil, Campos está em San Francisco há seis meses "por causa de uma paixão".
"Os gays no Brasil ficam de braços cruzados. Eles não sabem que ser gay não é só pluma e paetê", desabafou Campos.
Outro destaque brasileiro na parada era Robson de Moraes. Ele desfilou de salto altíssimo, biquíni de plumas e enrolado numa bandeira do Brasil.
Moraes dizia estar fantasiado de "a mais maravilhosa mulher do universo". Ou seja: "Estou fantasiado de brasileira."
Moraes está há cinco anos nos EUA. Afirma estar se preparando para lançar um livro no final do ano. "O nome ainda é surpresa, mas é um livro com assunto internacional", disse.
Todos os gays brasileiros na parada prometiam estar hoje na arquibancada de Stanford, em Palo Alto, torcendo pela seleção brasileira.
Ao redor do carro Birds of Paradise, dezenas de turistas brasileiros filmavam, faziam fotos ao lado dos gays e se divertiam.
Um torcedor com a camisa da torcida Gaviões da Fiel apenas balbuciava: "Inacreditável", "inacreditável", "inacreditável".
Cleonilson de Carvalho, baiano de Feira de Santana, achou o desfile "uma beleza". Mas, segundo ele, não há condições de acontecer algo semelhante no país. "O Brasil não é terra de bicha", disse.
A parada foi aberta pelo Contigente das Motociclistas Lésbicas. Às 11h em ponto, cerca de 500 mulheres –algumas nuas, algumas com bigode, muitas com casaco de couro preto – entraram na Market st. sob aplausos delirantes da platéia.
Foram seguidas pela banda de música gay de San Francisco e por uma série de grupos, alguns com nomes curiosos.
Entre eles, "Animais de Estimação Dão um Apoio Maravilhoso"; "Liga de Boliche Feminino de San Francisco"; e "Parentes e Amigos dos Homossexuais".
Também participaram os grupos "Filhos de Homossexuais" e os "High Tech Gays".
Na frente do grupo brasileiro vinha o grupo "Amantes do Couro", formado por homens de sunguinha preta e casaco de couro preto.
"O Brasil ainda não está preparado para isso", disse o turista Antonio Pereira, 50.

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