São Paulo, segunda-feira, 20 de junho de 1994
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Reinventar

Inventar já é suficientemente misterioso. Reinventar, então, parece um desafio inconcebível, quanto mais se se trata de reinventar a instituição mais desacreditada e falida do século 20: o Estado. Entretanto, é precisamente com a proposta de "reinventar o governo" que o jornalista David Osborne e o consultor de administração pública Ted Gaebler, ambos norte-americanos, vêm empolgando a opinião pública.
A originalidade da proposta começa pela ironia de defender uma "perestroika" nos EUA. Ao mesmo tempo, insere-se numa tradição crítica ao denunciar os vícios da burocratização da economia que, afinal, tornou-se célebre justamente pelo vigor de seus mercados e pelo dinamismo de suas empresas.
A essência do que propõem é uma extensão do liberalismo dos anos 80, mas desviculado de qualquer compromisso com o conservadorismo tradicional. O aspecto positivo em relação ao liberalismo é a contínua valorização do espírito empreendedor como mola propulsora do progresso. O aspecto crítico frente a esse mesmo liberalismo é a valorização do governo, a insistência mesmo na necessidade do Estado. Nesse sentido, reinventar o governo –à parte os esforços de privatização, combate à corrupção e desburocratização– significa forçar o próprio Estado e os burocratas a se transformarem em agentes empreendedores.
E aqui o empreendedor é o indivíduo em busca de oportunidades, não simplesmente de riscos. Assim, essa nova visão da revolução necessária na órbita do Estado é apenas a contrapartida de uma revolução análoga hoje necessária nas empresas –a revolução dos que percebem na mudança não apenas riscos, mas oportunidades.
As experiências do Leste Europeu e da Rússia mostram que a transição ao regime de mercado exige uma cultura empresarial. Osborne e Gaebler alertam para o fato, no fundo até óbvio, de que no próprio capitalismo empresas e governo precisam compartilhar uma vocação empreendedora.

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