São Paulo, segunda-feira, 20 de junho de 1994
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A última obsessão

JOSIAS DE SOUZA

BRASÍLIA – Nós, brasileiros, somos coveiros das próprias obsessões. Veja, por exemplo, o problema da dinheirama que azeita a engrenagem das campanhas eleitorais.
Depois de Collor e PC Farias, cobramos maior transparência. Súbito, nossa idéia fixa feneceu. Sem qualquer solenidade, como quem joga terra sobre um indigente, soterramos no inconsciente mais esta obsessão.
O assunto mal havia se insinuado e já o sepultamos. O dinheiro voltou a escorrer por entre os dedos dos candidatos sem que saibamos ao certo de onde vem. Não sabemos e não queremos saber.
Há novas obsessões na praça. O tetra, por exemplo. No momento, a integridade da virilha de Romário preocupa-nos mais do que a origem dos recursos que financiam as caravanas de Lula ou os jatinhos de Fernando Henrique.
A lei eleitoral, recém-aprovada, não arrancou a contabilidade de campanha da zona cinzenta em que sempre esteve. Os partidos apenas legalizaram as doações de empresários. Hoje, podem recebê-las livres do risco de serem tachados de criminosos.
Nada obriga os candidatos a divulgarem os nomes dos doadores. E esse é o maior problema. Quem dá dinheiro espera o troco em favores. Nada regularia melhor essa reciprocidade do que o olho do eleitor, do contribuinte.
O TSE discute há três semanas um tema que, há um ano, atrairia a atenção de uma multidão de Maracanã. Os ministros devem decidir amanhã o número de prestações de contas a que estarão sujeitos os candidatos.
A lei pede apenas um balanço, a ser feito após o segundo turno, quando já não se poderá corrigir eventuais problemas. O tribunal hesita em criar duas prestações de contas parciais, antes do primeiro e do segundo turno. Há ministros que, inexplicavelmente, se opõem à idéia.
A propósito, os candidatos deveriam tomar a iniciativa. Embora não obrigue, a lei também não proíbe a divulgação de nomes de doadores e de valores doados. O silêncio, nessa matéria, é cúmplice da delinquência.

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