São Paulo, segunda-feira, 20 de junho de 1994
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Balcão de negócios

Marcelo Beraba
SÃO PAULO – Várias candidaturas para o Congresso e para as assembléias estaduais já se transformaram em balcões de negociatas.
A lei eleitoral, apesar de criada após o Collorgate e de sua gênese –a eleição de 89–, não vem sendo suficiente para impedir que isto aconteça.
Um candidato a deputado federal informa que os bônus eleitorais estão sendo "vendidos" pela metade do seu valor de face. Às vezes, até por menos.
Para exemplificar: uma empreiteira (sempre elas; chega a parecer perseguição) procura um candidato ou é procurado por ele. Acertam uma contribuição de, digamos, US$ 80 mil. A empresa paga o valor estipulado e leva em bônus o equivalente a US$ 160 mil.
Para o candidato é um ótimo negócio. O país ainda está em recessão e havia a expectativa de que os empresários, traumatizados com o Collorgate, trancassem os cofres. E, para quem precisa "lavar" dinheiro, o negócio também é ótimo.
O Tribunal Superior Eleitoral calcula que vai expedir cerca de US$ 25 bilhões em bônus. O cálculo foi feito a partir de dados dos partidos com as previsões de gastos para as campanhas dos 25 mil a 30 mil candidatos aos diversos cargos.
Está claro que esta cifra estratosférica, suficiente para erradicar várias misérias do país, estará incluindo alguns bilhões de dólares que nunca circularão pelas campanhas porque jamais sairão das empresas.
É dinheiro que passou o ano escondido por causa de suas origens suspeitas e vai terminar o ano fiscal legalizado.
O TSE não está alheio ao problema. Há várias manifestações do seu presidente que indicam a intenção de moralizar a eleição.
Entre as medidas que podem complicar as negociatas estão: a imposição de que as doações ocorram através de cheques nominais e cruzados; a obrigação de prestações de conta frequentes; a fiscalização regular da Receita e de outros órgãos do governo; e a discriminação detalhada dos gastos de campanha.
Se não for feito algo muito rapidamente, corremos o risco de ter uma campanha ainda mais indecente do que a de 89. O que parecia ser impossível.

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