São Paulo, terça-feira, 21 de junho de 1994
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Metamorfoses surgiram a partir dos anos 80

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

Quanto mais diabólico o personagem, melhor para Jack Nicholson, ator excessivo por natureza. Nesse registro, ele pode ser, com igual desenvoltura, o Coringa, de "Batman" (1989), o possuído de "O Iluminado" (80), o demônio de "As Bruxas de Eastwick" (87).
É a partir dos anos 80 que o ator desenvolve a capacidade para a metamorfose, que vai ao encontro de seu caráter impulsivo e dificilmente contível. Nessa fase, Jack "superstar" enfia a faca nos produtores e chega a cobrar cachês de US$ 10 milhões (daria para fazer uma dúzia de filmes brasileiros).
Nicholson fez desse tipo de caracterização uma espécie de segunda natureza. Preguiçosa, admita-se, do momento em que a criação torna-se um tique e o tipo passa a se repetir.
Mesmo em "Hoffa" (92), onde faz o controvertido líder sindical norte-americano, é por aí que vai sua caracterização.
Antes, Jack Nicholson brilhara por alguns minutos, também como um sindicalista, em "O Último Magnata" (76). Era apenas uma cena, em que ele fazia o representante dos roteiristas de cinema, que se opunha asperamente a Robert De Niro, produtor.
Ali, ele tinha a seu favor o fato de trabalhar com Elia Kazan, excelente diretor de atores de todos os tempos, o que lhe deu a chance de, a cada respiração, alternar os registros, passando do excesso à contenção, do blasé ao combativo.
Mas Nicholson foi também, ao longo de sua carreira, o detetive de "Chinatown", o jornalista de "Profissão: Repórter" (74), o psicopata de "Um Estranho no Ninho" (75), o advogado de "Sem Destino" (69), o amante de "O Destino Bate à Sua Porta" (81).
Alguns exemplos, apenas, mas o bastante para provar que, quando quer, Nicholson pode ser muito mais que o demônio e suas variantes: imagem que cultivou com cuidado, que transformou em marca registrada, na qual fez a cama e instalou-se, confortavelmente, nos últimos anos.(Inácio Araujo)

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