São Paulo, quarta-feira, 22 de junho de 1994
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Lula encontra Mandela e defende coalizão

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A PRETÓRIA

Depois de uma audiência de meia hora, na manhã de ontem, com o presidente sul-africano, Nelson Mandela, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) "comprou" o modelo local de governo de coalizão.
"Se você quer fazer reformas estruturais, precisa de uma maioria na sociedade e, consequentemente, precisa integrar o governo com outros partidos", afirmou Lula.
A única diferença entre o esquema sul-africano e o que Lula defendeu ontem está na abrangência. Na África do Sul, a própria Constituição interina obrigou à formação de um governo de unidade nacional, após as eleições de abril.
Lula exclui a direita de sua eventual coalizão. "No Brasil, setores considerados de direita têm pouco a contribuir no processo de construção da cidadania", disse.
Mas prometeu chamar "gente boa do PMDB, do PSDB e do PDT", se for eleito.
Lula contou ter ouvido de Mandela a "paciência" que foi necessária para obter a adesão de setores empresariais às propostas que, finalmente, o CNA (Congresso Nacional Africano) apresentou ao eleitorado.
Essa tese sobre a paciência e a adesão de amplos setores da sociedade parece ter sensibilizado o candidato, que, na véspera, criticara para a Folha o comportamento do empresariado.
Nesse capítulo, Lula comparou a situação de Mandela com a que terá pela frente, se ganhar. "Ele (Mandela) sabe que tem que cumprir o que prometeu, única maneira de garantir a credibilidade. Agora, tem que fazer, envolvendo toda a sociedade", disse.
Completou: "Nós também. Por isso, incluímos a iniciativa privada como fator fundamental para o nosso programa de emprego".
O encontro Mandela/Lula ocorreu no Union Building, a sede governamental.
Só participaram, além dos dois interlocutores, o embaixador brasileiro na África do Sul, Antônio Sampaio, e o intérprete da delegação petista, Sérgio Ferreira.
Questões sociais
Nelson Mandela e Lula discutiram ontem "muitos assuntos de preocupação comum", com ênfase para as questões sociais, conforme o relato feito pelo próprio presidente sul-africano após a reunião.
"Ambos os países sofreram muito com o demônio do racismo e sofrem também em consequência de massa de pessoas levadas à pobreza e às quais são negadas oportunidades", afirmou.
O presidenciável disse ainda que as relações comerciais Brasil/África do Sul (hoje da ordem de US$ 300 milhões/ano) podem "dobrar ou triplicar".
CUT "independente"
Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho, presidente da CUT (Central Única de Trabalhadores), após ouvir seus congêneros sul-africanos, reforçou sua tese de que a CUT deve ter, em um governo petista, uma posição que ele batiza de "independência evoluída".
Evoluída significa "discutir mais do que a mera questão salarial", diz Vicentinho. "Queremos debater também temas como a política industrial", completa.

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