São Paulo, quarta-feira, 22 de junho de 1994 |
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Brasil fabricava cigarro 'supernicotinado'
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
A existência do "Projeto Y-1" foi revelada ontem ao Congresso dos EUA por David Kessler, diretor da Food and Drug Administration (FDA), agência do governo federal norte-americano. A Souza Cruz exportava o tabaco Y-1 para os EUA, onde sua associada Brown & Williamson o utilizou para fabricar cinco marcas de cigarro: Viceroy (King Size e Lights King Size), Richland (King Size e Light King Size) e Raleigh. A FDA disse à Folha que não tem informações sobre a possível utilização do fumo Y-1 em cigarros comercializados no Brasil. "Pergunte à Souza Cruz", disse o técnico da FDA Joseph O'Hare. Kessler afirmou ter descoberto o Projeto Y-1 ao examinar uma patente concedida pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial à Brown & Williamson em 1993. Pelo menos 1,8 milhão de quilos de fumo Y-1 foram exportados pela Souza Cruz para os EUA. Essa é a quantidade desse tipo de tabaco que a FDA diz estar estocada em armazéns da Brown & Williamson nos EUA. Os executivos da companhia se recusaram a falar com jornalistas sobre o assunto ontem. Seu presidente será ouvido pela mesma comissão amanhã. Kessler disse ter ouvido de representantes da empresa a justificativa de que o Y-1 foi concebido para reduzir o alcatrão no fumo. Mas o diretor da FDA acha que o projeto é "uma dramática prova de que as indústrias fazem alterações genéticas no tabaco" com o objetivo de aumentar a dependência do fumante ao cigarro. Há dois meses, ele havia feito essa acusação ao Congresso. As mais importantes indústrias de tabaco do país rechaçaram as afirmações de Kessler. Disseram que isso era impossível de acontecer. Só na sexta-feira passada, quando Kessler confrontou dirigentes da Brown & Williamson com as evidências de que já dispunha sobre o Projeto Y-1, é que eles, pela primeira vez, admitiram a prática. A FDA disse não saber como as sementes do fumo Y-1, desenvolvidas por engenheiros genéticos em laboratório nos EUA na década de 70, foram exportadas para o Brasil. Esse tipo de exportação estava proibido pelo governo dos EUA até 13 de dezembro de 1991. Ontem Kessler também acusou as indústrias de acrescentarem amônia na fórmula dos cigarros para fazer com que a máxima quantidade possível de nicotina seja absorvida pelo corpo. Texto Anterior: Leia a íntegra do pronunciamento do ministro da Fazenda Próximo Texto: Congresso estuda leis antifumo Índice |
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