São Paulo, quarta-feira, 22 de junho de 1994
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Hollywood adulou Riefenstahl

SERGIO AUGUSTO
DA SUCURSAL DO RIO

Leni Riefenstahl, a cineasta oficial do Terceiro Reich, visitou os EUA em novembro de 1938. Já fizera as suas mais célebres e brilhantes exaltações à superioridade ariana –"O Triunfo da Vontade" e "Olimpíadas"– e iniciava um calculado trabalho de relações-públicas. Em seus planos, a obtenção de um circuito de 19 salas nas cinco maiores cidades dos EUA para o lançamento de "Olimpíadas".
Desembarcou cheia de pose e nem quando disse insultuosas asneiras sobre a "inferioridade dos negros" e a "pérfida intenção dos judeus de transformá-los em comunistas", a imprensa de Nova York caiu em sua pele. "Ela é charmosa", babou o "Daily News". Walter Winchell, o colunista mais lido do país, não fez por menos: "Ela é tão bonita quanto a suástica".
Um jantar no Museu de Arte Moderna apresentou-a aos socialites de Manhattan. Naquela noite, enquanto os nova-iorquinos libavam à presença de "fraulein" Riefenstahl, os nazistas faziam a maior "razzia" contra a comunidade judaica alemã, destruindo lojas, sinagogas, e massacrando dezenas de pessoas. Aturdido com o noticiário da manhã seguinte, o cônsul-geral da Alemanha em Nova York sugeriu à cineasta que retornasse imediatamente a Berlim.
Riefenstahl, contudo, rumou para Chicago, a convite de Henry Ford, o magnata da indústria automobilística. Em seguida, tomou o trem para a Califórnia. Pretendia hospedar-se no folclórico Garden of Allah, o condomínio preferido por nove entre dez estrelas de Hollywood, mas a reação dos condôminos foi de tal ordem que ela teve de se contentar com um bangalô no hotel Beverly Hills.
"Não há lugar para Leni Rifenstahl em Hollywood", proclamava um anúncio de página inteira que a Liga Antinazista mandou publicar no "Hollywood Reporter". Mas, apesar das pressões, ela foi ficando. Frequentou festas, visitou estúdios (Walt Disney fez um "tour" de três horas com ela) e até aprendeu truques de vaqueiros numa fazenda de San Fernando Valley. Em janeiro de 1939, quase dois meses depois de sua chegada, voltou para a Costa Leste. E, logo em seguida, para a Alemanha. Sem arrumar circuito para "Olimpíadas", recentemente exibido em Nova York, numa retrospectiva de suas obras.
Atualmente com 92 anos, a musa de Hitler acaba de publicar sua autobiografia nos EUA, onde há pouco também lançaram um documentário a seu respeito, sintomaticamente intitulado "A Maravilhosa e Horrível Vida de Leni Riefenstahl". (SA)

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