São Paulo, sábado, 25 de junho de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Sem sobressalto, o Brasil avança

ALBERTO HELENA JR.
EM PALO ALTO

A gripe californiana me pegou, bem no meio desse entra e sai de ar condicionado, sol a pino com vento frio, um permanente convite à pneumonia. Mas nem assim tenho a alma ensombreada.
A caminho do estádio de Stanford, cresce a certeza de que o Brasil vai se desvencilhar desse ainda misterioso Camarões.
Nem diria otimismo, mais um senso da realidade. Afinal, os camaroneses jogam o típico futebol que interessa ao esquema desta seleção de Parreira: atacam descuidadamente. É sopa no mel para Dunga e cia.
No centro de imprensa, as tevês mostram o baile que o México vai dando na Irlanda, enquanto lá fora, no meio da rua, soa um berimbau. Forma-se uma roda de capoeira. Brasileiros, todos com a camisa número 1. Todos brancos. Brasileiros, brancos, dançando dança de negro escravo em Palo Alto, Califórnia, EUA.
Isso, momentos antes de o Brasil cruzar com Camarões, uma das potências negras desta Copa, cujo futebol, para muitos, reflete um passado bem nosso, mais romântico, cheio de ginga e malícia. Mas será?
Que malandragem é essa, meu camarada? O gingado, a firula, a molecagem, tudo isso não será bem mais ingênuo do que a traiçoeira e maliciosa estratégia de Parreira, de plantar sua equipe com todos os cuidados, esperando a hora de dar o bote fatal?
O jogo vai começar. Talvez, tenhamos a resposta daqui a pouco.
E começou meio perturbardor. Afinal, contrariando minhas expectativas, os camaroneses executavam uma marcação feroz. Sobretudo, em cima de Romário e Bebeto.
Assim, a bola rolou reticente durante mais de meia hora, quando o Brasil, depois de um longo período em que exercitou sua paciência e a do amante do futebol, começou a furar a retranca africana. É bem verdade que, aos 13 minutos, Zinho sofrera pênalti claro, que o juiz mexicano resolveu não dar.
Mas, aos 39, Dunga recolhe a bola no meio-de-campo e serve Romário de bandeja. Gol, claro. Exatamente como Dunga me havia prognosticado dias antes. Com esse gol, sobreveio uma maior tranquilidade a todo o time, que, no duro, no duro, não tinha sido ameaçado em nenhum instante.
Findo o primeiro tempo, ficou-me a grata presença de Raí, no meio-campo, deslocando-se, tocando, disputando a bola com vigor etc. Mas, no segundo, uma sequência incrível de jogadas erradas justificou sua substituição por Muller.
Só que, antes disso, o Brasil já havia feito o segundo gol, logo após a expulsão de um beque inimigo e a entrada do veteraníssimo Roger Milla. E, logo em seguida, o terceiro, numa arrancada de Romário, bola espirrada no goleiro, Bebeto completa o marcador.
No geral, mais uma vitória sem brilho. Destaque? Nenhum. Mas é esse mesmo o projeto do time de Parreira: percorrendo um caminho sem sol, nem sombra, chegar ao tetra, somando os pontinhos necessários e jogando sempre de olho no resultado, sem saltos, nem sobressaltos.

Texto Anterior: Estados Unidos são uma grande Mesbla!
Próximo Texto: Jogadores de Camarões impõem escalação
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.