São Paulo, segunda-feira, 27 de junho de 1994
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URV deve fechar o mês com alta de 47%

JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O mercado financeiro trabalha com uma URV (Unidade Real de Valor) para o dia 30 ligeiramente acima da média dos três índices que compõem o indexador (Fipe, IGP-M e IBGE). Será o valor usado na conversão de cruzeiros reais para reais.
A taxa média, estima o mercado, ficaria entre 46,4% e 46,8%. A URV deve fechar com uma variação ao redor dos 47%.
Na última semana, o ministro da Fazenda, Rubens Ricupero, afirmou que a URV será corrigida acima da média para refletir ao máximo a aceleração dos preços das últimas semanas de junho.
A Folha fez uma simulação do que poderia acontecer. Na primeira hipótese, a URV seria corrigida em 47% e a inflação em cruzeiros reais bateria os 50% em junho. Com estes números, a inflação do primeiro mês do real ficaria em 1% (medida conforme o governo deseja) e em 21,22% (medida com é hoje, metodologia que demora mais tempo para retratar a queda da inflação).
Caso a URV ficasse em 47% e a inflação em cruzeiros reais batesse os 60%, a inflação em reais de julho subiria para a faixa dos 4% e a medida pela metodologia tradicional ficaria em cerca de 25%.
Ou seja, um dos efeitos da correção pela URV acima da média é a redução da inflação em reais de julho –o primeiro mês da moeda.
Um valor maior para a conversão não afeta qualquer dos preços que estejam expressos em URV. Uma URV será, conforme a regra, sempre um real. Quem recebe, por exemplo, 100 URVs vai receber R$ 100 e ponto final.
Um valor maior para a URV, porém, não é neutro em relação aos preços que ainda estão em cruzeiros reais.
Em tese, quanto maior for o fator de conversão, menores serão os valores em reais. Dependendo da URV de 30 de junho, um preço qualquer poderia deixar de ser R$ 2,00 e passar a ser de R$ 1,8.
Este raciocínio, que parece ser o do governo, porém, pode não se materializar.
Anunciada a nova regra –nos últimos três meses a URV sempre foi corrigida pela média–, os preços em cruzeiros reais podem subir em uma velocidade maior, anulando o efeito da aceleração da URV.
Só não escaparia da perda o cruzeiro real que está no bolso ou nas contas corrente e que não rendem juros. Ou seja, de olho nos especuladores, o governo acertaria os assalariados.
Existe ainda um cenário que pode ter efeitos desastrosos. O valor da URV subir além do que o mercado financeiro está esperando –e projetando nas taxas de juros.
Neste caso, perderiam todos os aplicadores, da poupança ao over, passando pelos fundos de investimento e chegando aos exportadores que anteciparam contratos de câmbio.
A medida equivaleria a um minicalote na dívida interna, deixando vazio o discurso do governo de que não haveria confisco.
Pouca gente no mercado financeiro aposta nesta hipótese, já que ela poderia comprometer as chances eleitorais de um dos pais do plano. (João Carlos de Oliveira)

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