São Paulo, segunda-feira, 27 de junho de 1994
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Sem BC independente, plano tem vida curta, afirma Francisco Gros

ANTONIO CARLOS SEIDL
DA REPORTAGEM LOCAL

Francisco Gros, presidente do Banco Central em 1987 e de maio de 1991 a novembro de 1992, disse que o real não é suficiente para estabilizar a economia brasileira.
Trabalhando atualmente no banco norte-americano Morgan Stanley, Gros afirmou que sem a revisão constitucional e a independência do Banco Central a estabilidade terá vida curta.
Defensor da independência para o Banco Central, Gros disse que essa medida é uma demonstração de que a estabilidade da moeda é a principal prioridade do país.
Gros falou à Folha, por telefone, de seu escritório em Nova York, na manhã de sexta-feira. A seguir, trechos da entrevista.

Folha - A entrada do real vai derrubar a inflação?
Francisco Gros - O plano é um passo numa longa caminhada no sentido da estabilização.
Mas há obstáculos ao seu sucesso porque não foram feitas a reforma constitucional, a reforma tributária e a reforma do Estado.
Além disso, é preciso dar independência ao Banco Central.
Folha - Qual o impacto desses obstáculos na estabilização?
Gros - Todas as reformas importantes para o processo de estabilização da economia brasileira continuam na fase de projetos.
Tudo que fizemos foi criar um fundo de emergência por um período de dois anos e estamos aumentando a arrecadação fiscal um pouco no grito.
Folha - O que será do plano sem as reformas estruturais?
Gros - Mais uma medida de curto prazo. O plano será eficiente ou não dependendo das medidas que o novo governo e a nova legislatura implantarem.
Folha - Qual é a importância da independência do Banco Central?
Gros - Não é o único, mas é um dos fatores fundamentais para a implementação e sustentação de um programa de estabilização.
Significa que a sociedade considera que a estabilidade da moeda é a prioridade mais importante do país.
Em nome da estabilidade da moeda, a sociedade tem de estar preparada para alguns sacrifícios.
Folha - A sociedade brasileira está preparada para isso?
Gros - A sociedade brasileira quer a estabilidade da moeda, mas essa é uma de suas quarenta e cinco prioridades.
Na situação atual o Banco Central é chamado frequentemente a acomodar essas demandas todas.
A sociedade, via Congresso, na revisão constitucional precisa dar esse mandato ao Banco Central.

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