São Paulo, terça-feira, 28 de junho de 1994
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A escola de aumentos

JANIO DE FREITAS

Os números são atordoantes: nos sete anos entre 87 e o mês passado, o custo de vida das famílias que ganham entre um e 30 salários mínimos subiu 26.995.027.981% (isso mesmo, 26 bilhões), mas, no mesmo período, as mensalidades e taxas escolares subiram 100.044.064.840% (100 bilhões, sim senhor). O custo das escolas particulares elevou-se, portanto, 270% acima do custo de vida.
Sob o argumento de que as escolas particulares não resistiriam à alegada redução das mensalidades à metade, supostamente forçada pelo método de sua conversão à URV prescrito na Medida Provisória específica, o presidente Itamar Franco tornou-se alvo das críticas gerais dos meios de comunicação. E mesmo de insultos pessoais por parte de jornalistas.
Nem os interessados diretos, nem os críticos da MP apresentaram levantamentos comparativos da evolução das mensalidades e do custo de vida, ou da inflação. O levantamento que devo à paciência do Dieese mostra, porém, que as escolas particulares acumularam aumentos excessivos que ultrapassam em quase três vezes as correções decorrentes da inflação. A redução das mensalidades à metade do que cobraram em maio/junho não as ameaçaria nem de longe. Ao contrário, deixaria ainda uma folga que, em outros preços, está sendo chamada de abusiva.
Moleza
No seu programa de ontem sobre o real, o ministro Rubens Ricupero pediu que a população boicote os supermercados com preços elevados. Quer dizer, a equipe econômica não fez o que lhe cabia e a população é que deve tomar as providências. As providências que, aliás, não pode tomar porque não pode alimentar-se de palavras governamentais.
Onze a um
Divulgou-se, na semana passada, um processo criminal de Fernando Henrique contra Lula, por ter dito –afirma a queixa– que "se ele abrisse uma escola de governo, eu não matricularia meus filhos, pois iriam aprender a roubar e não a governar".
No comício brasiliense de sábado, ao lado do governador Joaquim Roriz (US$ 7 milhões inexplicados em suas contas, segundo a CPI do Orçamento), Fernando Henrique chamou, não apenas Lula, mas todos os seus competidores na eleição de "estelionatários de idéias". Se a sua iniciativa contra Lula virar moda, Fernando Henrique sujeita-se a onze processos, que tantos são os insultados.
Retirada
Ainda que muito merecida, a aposentadoria do ministro Luciano Brandão suscita o pesar de quem sempre espera um papel relevante do Tribunal de Contas da União. Competência, rigor e independência aliaram-se no seu trabalho de maneira exemplar. Creio que todos lhe devemos um agradecimento, do qual aqui fica a parte menos valiosa.

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