São Paulo, terça-feira, 28 de junho de 1994
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Indústria naval e emprego

RONALDO CEZAR COELHO

A indústria naval do Estado do Rio de Janeiro vive hoje um momento decisivo, diante da situação em que se encontra. É a hora da virada ou do caos.
Somos o maior construtor naval da América Latina. Tudo começou com o presidente Juscelino Kubistschek que, em seu Plano de Metas (50 anos em 5), escolheu o Rio como pólo da indústria de construção naval, dentro do Programa de Industrialização do Brasil.
Fortaleceram-se os maiores estaleiros e, em torno deles, nasceu um grande parque industrial específico, de suporte, que abrange desde as pequenas metalúrgicas até os grandes centros tecnológicos, inclusive com aporte de capital externo.
Foi em meados dos anos 70, até 1979, no entanto, que a indústria naval fluminense viveu seu auge, quando a capacidade de transporte chegou a 10.500 TPB/ano, a mão-de-obra instalada atingiu os 2 milhões de TPB/ano em capacidade, e foram gerados 40 mil empregos diretos, com salários entre US$ 300 e US$ 800, beneficiando ao todo 1 milhão de pessoas.
A partir dos anos 80, a Frota Mercante Nacional começou a ir a pique, numa deterioração progressiva alarmante. Hoje a indústria naval funciona com metade de sua capacidade, navios obsoletos vêm obrigando o afretamento de embarcações estrangeiras num ritmo que eliminará a cabotagem em navios brasileiros antes do ano 2000.
Não chega a 11 mil o número de trabalhadores no setor que tem, como característica, a geração de empregos e renda, com marcante efeito multiplicador. Os prejuízos para a economia do Rio e do país são evidentes e assustadores: o Brasil perde por ano US$ 700 milhões com a evasão de divisas, provocada pela perda de fretes nacionais.
A construção desenfreada e sem critérios de rodovias acelerou o processo de decadência da indústria naval. Nossa única fábrica de motores para a propulsão de navios foi desativada, e o fundo criado para financiar a produção de embarcações, o Fundo de Marinha Mercante (FMN) não dispõe de recursos.
Mesmo em crise, o volume de contratações para o exterior representa 44% do total da nossa carteira de encomendas, e para atender à demanda existente será necessária uma complementação mínima de US$ 400 milhões.
A abrangência do setor naval no Estado do Rio revela o potencial de nossa indústria. Dos 20 estaleiros de construção em todo o país, 12 estão no Rio; temos 31 empresas de serviços de reparo e mais que o dobro dos serviços de dragagem existentes no Brasil.
O Rio dispõe dos maiores armadores nacionais, inclusive estatais (Petrobrás e Docenave), e tem condições de desenvolver o setor pesqueiro e, através do transporte marítimo de massa e de turismo, expandir o setor de serviços.
A indústria naval fluminense, apesar da crise, ainda mantém a competitividade, a qualidade e a produtividade dos países líderes da área mercante. Não sofre de defasagem tecnológica e nossos navios rivalizam com os similares estrangeiros. Vivemos a situação do líder da corrida que pode perdê-la por falta de combustível.
Em março deste ano, o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) anunciou a abertura de uma linha de crédito no valor de US$ 220 milhões, para permitir a construção de navios encomendados e o término das obras de outros 21. A curto prazo, isso representa a geração de novos empregos, de que tanto o país necessita, e a sobrevida da indústria naval fluminense.
O PSDB do Rio, através de suas lideranças, comprometeu-se, desde o primeiro instante, com o soerguimento desse setor que é estratégico e fundamental para a economia do Estado do Rio e para o desenvolvimento nacional. Não pararemos aí.
Queremos a retomada da linha de investimentos através do BNDES, a redução dos impostos, a garantia de uma política estável, a revitalização dos portos e a indispensável descentralização do governo federal, que permitirá a melhor distribuição de recursos.
Estas são algumas das muitas questões que envolvem o renascimento da indústria naval e que exigem perseverança na luta, não só do PSDB, mas também dos empresários, dos trabalhadores, de toda a sociedade, enfim, de todos comprometidos com o futuro do Rio, neste momento de renovação e esperança.

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