São Paulo, terça-feira, 28 de junho de 1994
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Parreira tenta conter revolta

FERNANDO RODRIGUES E MÁRIO MAGALHÃES
DOS ENVIADOS A DETROIT

O técnico Carlos Alberto Parreira pediu em reunião de emergência realizada anteontem em Detroit, cidade dos EUA onde a seleção brasileira joga hoje, para os jogadores "conterem a revolta".
O regime de concentração e vigilância permanente a que a equipe se submete desde que chegou ao país, dia 26 de maio, começou a causar tensão e impaciência, segundo o técnico.
Dois porta-vozes escolhidos pelos jogadores falaram por eles, o meia Raí e o lateral Jorginho. Reclamaram do aparato de segurança montado no hotel e da comida.
"Você acorda, sai do quarto e já há um gorila esperando do lado de fora da porta", disse ontem o lateral-esquerdo Branco. "Quer dar uma caminhada e o cara vem atrás. Nos trouxeram para um quartel."
Participaram da reunião jogadores, comissão técnica, o chefe da delegação, Mustafá Contursi, e o presidente da Confederação Brasileira de Futebol, Ricardo Teixeira.
"Esclarecemos aos jogadores que o esquema de segurança não foi uma decisão nossa, mas do Comitê Organizador da Copa do Mundo", disse Parreira.
Os dois andares mais elevados do hotel, o 11º e o 12º, são exclusivos da seleção. Só entra quem tem um cartão magnético que permite que o elevador vá até lá e mostra credencial para seguranças.
Os seguranças têm recomendação da CBF para impedir a presença de qualquer mulher nos andares onde ficam os jogadores.
A distância da família, especialmente das mulheres, é um dos principais motivos da tensão na equipe, segundo o técnico.
"Como qualquer pessoa, os jogadores precisam de sexo como de comida", afirmou.
Em relação à insatisfação com a comida, a resposta aos jogadores na reunião foi a de que nada pode ser feito em Detroit, onde as refeições são servidas pelo hotel.
Em Los Gatos, cidade da Califórnia onde o Brasil se hospedou até a sua segunda partida no Mundial, a comida era feita por um cozinheiro brasileiro.
Em relação a sexo, os únicos dias em que os jogadores podem sair sozinhos, sem participar de qualquer atividade da seleção, são as folgas. São obrigados a voltar até as 22h para dormir no hotel.
A cartilha disciplinar da CBF proíbe que os jogadores levem mulheres para os quartos do hotel onde a delegação se hospeda. Em cada quarto dormem dois jogadores.
A reunião não estava prevista. A Folha apurou que ela foi convocada às pressas porque foi constatada grande insatisfação dos jogadores com o regime de concentração.
Parreira preparou um roteiro para conduzir os 45 minutos de duração da reunião.`Os dois primeiros itens eram "concentração" e "objetivos". "É normal o time estar cansado. A pressão é enorme. Tento manter o nível de concentração e paciência dos jogadores."
"Todos os dias eu digo a eles: agora só faltam 26 dias para a final, agora só faltam 25, só 24... Temos que evitar que o tédio e o cansaço sejam nossos inimigos." Faltam 19 dias para o fim da Copa.
Parreira negou que os jogadores tenham pedido adiantamento de parte dos cerca de US$ 120 mil do prêmio que cada um receberá se conquistar o título.
O prêmio para vencer a primeira fase é simbólico, por volta de US$ 1.000. (FR e MM)

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