São Paulo, quarta-feira, 29 de junho de 1994
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Essa seleção deixa o torcedor entediado

ALBERTO HELENA JR.
EM LOS ANGELES

É pelo menos uma experiência inusitada: estar aqui, no país da Copa, e ver o Brasil enfrentando a Suécia por um telão instalado no estúdio de gravações dos programas do Jô Soares, em Los Angeles, umas cinco horas de vôo de distância de Detroit. O telão transmite uma imagem impecável, a platéia é seletíssima, com o pessoal que vai participar mais tarde da mesa redonda, mas o que se vê é uma tristeza.
É isso mesmo: bola rolando de um lado pra outro de nossa defesa, eis a tática –mais que isso, a estratégia– de Parreira para toda a Copa. Seja contra quem for, em qualquer campo, a qualquer hora, ganhando ou perdendo, chova ou faça sol.
Então, preparo-me para mais duas horas daquele estado de torpor, quase vigília, que nossa seleção proporciona a cada rodada. E não me engano. É bola rolando daqui pra lá, de lá pra cá. E o povo se mexendo na cadeira, um desconforto crescente, uma expectativa que jamais haverá de ser concretizada. Também, a Suécia, o que tem pra dar? Quase nada. Quem sabe uma bola alta, uma cabeçada de um desses grandalhões. Mas, não, bastou que Aldair se adiantasse, juntamente com Jorginho, para que se abrisse um clarão pelo lado direito de nossa defesa. Pronto, um sueco esperto mete a bola ali para Andersson que faz um belo gol.
Como, se me apavorei? Nem um pouco. Logo, logo, Romário escapa e empata esse jogo. Estou tranquilo. Ou melhor: entediado. Ainda bem que o juiz apitou o final do primeiro tempo. Quem sabe, na volta, o Brasil venha modificado, mais vivo, menos anódino, mais agressivo, menos abúlico.
E não é que voltou modificado mesmo? Entrou Mazinho no lugar de Mauro Silva. Boa substituição. Afinal, Mauro Silva e Dunga são uma redundância num jogo empatado, que dirá com o Brasil perdendo?
Dois toques de Mazinho na bola e o time já é outro. Tanto que olha lá o Romário escapando, bola no canto direito, caçapa. Tudo programado, tudo dejavu, tudo nos trinques de Parreira, que quer assim mesmo: o torcedor com o coração na boca e ele com a taça na mão.
Mas não precisava ser tão cruel. Bastaria manter Mazinho nesse meio-campo, pois é evidente que ele oferece ao time mais qualidade técnica no passe, no vislumbre da jogada em profundidade, essas pequenas coisas que fazem a grande diferença no futebol. Bastaria que, no lugar de Zinho, inútil paisagem nos três jogos até agora disputados e ao longo de todos os amistosos, na pré-temporada, ele arriscasse um Cafu, que lhe asseguraria a mesma combatividade no meio-campo e muito mais agressividade lá na frente. Ou, então, que tentasse Viola, sempre o melhor em todos os treinamentos, e que não tem a menor chance. Prefere entrar com Paulo Sérgio, o pior nos treinamentos.
Bastaria, enfim, que Parreira fosse mais coerente com suaspróprias teses e que tentasse traduzir na escalação as teorias que ele tanto apregoa. Bastaria que... sei lá, que gostasse um pouquinho mais de futebol.

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