São Paulo, quarta-feira, 29 de junho de 1994
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Venezuela faz pacote contra crise

NEWTON CARLOS
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

A situação na Venezuela, onde foi decretado anteontem controle de preços, congelamento do câmbio e suspensão das garantias constitucionais, vinha se agravando de tal modo ultimamente que se voltou a falar da possibilidade de novas tentativas de golpe.
Ex-ministro da Defesa, o almirante Radamés Mu¤oz Leon teria se reunido secretamente em Aruba (Antilhas Holandesas) com militares da ativa dispostos a derrubar o presidente Rafael Caldera.
O almirante também estaria envolvido, segundo denúncia feita no Senado, com representantes do setor financeiro empenhados em }desestabilizar a economia.
A crise vem de longe e teve a sua primeira manifestação violenta em fevereiro de 1989, quando motins de ruas em Caracas –o "caracazo"– marcaram de modo sangrento o início do governo do ex-presidente Carlos Andrés Pérez.
Ele enfrentou duas tentativas de golpe, acabou sofrendo impeachment acusado de corrupção e está preso à espera de julgamento.
Os motins explodiram em reação às medidas duras do programa de ajuste econômico de Pérez, mais ou menos à imagem de outros programas latino-americanos, como os da Argentina e México, onde também há tensões fortes.
Caldera foi eleito prometendo compensações sociais, mas a queda a 1º de junho do ministro Asdrubal Baptista (Reforma Econômica) foi vista como fim da }fase idealista de seu governo.
O ministro da Defesa, general Rafael Montero, garante que grupos de esquerda e extrema direita conspiram contra o regime democrático.
Montero está de olho em Hugo Chavez, coronel reformado que encabeçou a fracassada tentativa de golpe de fevereiro de 1992.
Chavez foi perdoado por Caldera e duas semanas depois de deixar a prisão disse que haverá golpes e possivelmente até guerra civil caso a sociedade venezuelana não sofra grandes transformações.
Além de déficit orçamentário equivalente a 10% do PIB (Produto Interno Bruto) e inflação em alta, Caldera enfrenta crise financeira que levou o governo a fechar oito bancos, provocando desespero em 2 milhões de depositantes, que saíram às ruas para protestar.
Sem recursos para atender necessidades básicas em saúde, educação e outras de caráter social, o caixa oficial ainda jogou US$ 4 bilhões nos bancos em quebradeira.
Mesmo assim o Conselho Bancário, entidade representativa do setor, criticou o fechamento por sua repercussão negativa.
A forte desvalorização do bolívar (moeda venezuelana) frente ao dólar resultou em locaute de empresas de ônibus exigindo aumentos de 50% nas passagens para cobrir custos.
Greves e outros conflitos sociais se multiplicam, tendo em vista a incapacidade do governo em preveni-los.

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