São Paulo, quinta-feira, 30 de junho de 1994
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Déficit e abuso na remarcação ameaçam início do Plano Real

REGINA ALVAREZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Plano Real, que será oficialmente anunciado hoje pelo governo, vai enfrentar problemas que o colocam em xeque de saída.
O déficit nas contas públicas, a falta de reformas estruturais, o abuso de preços e a desinformação da população colocam em risco o sucesso do programa.
O governo não conseguirá zerar o déficit público em 94, como pretendia. A Receita Federal está estimando queda na arrecadação de impostos de 1,8 bilhão de URVs em relação ao previsto.
As despesas estão crescendo mais do que as expectativas do orçamento.
O déficit na Previdência com o aumento do salário mínimo chega a US$ 1,3 bilhão. A partir de setembro, o Tesouro terá de cobrir parte das despesas com benefícios, mas ainda não dispõe de recursos para isso.
As despesas com juros da dívida foram subestimadas no orçamento para 1994. Foi estimado gasto de US$ 7,7 bilhões, que poderá chegar a US$ 12 bilhões, segundo nova estimativa feita pelo Congresso, com base na elevação da taxa de juros.
Os gastos com a saúde devem superar em US$ 2 bilhões a previsão do orçamento (US$ 5 bilhões).
Não há recursos para novos gastos com pessoal, embora o presidente Itamar Franco insista em aumentar o funcionalismo, especialmente os militares.
Reformas
As reformas estruturais que o governo sempre colocou como indispensáveis ao sucesso de um programa de estabilização não saíram do papel.
A independência do Banco Central não conta nem mesmo com o aval do presidente Itamar Franco.
A reforma fiscal e a reforma na Previdência, que assegurariam ao governo as condições para equilibrar suas contas de forma definitiva, não foram incluídas na revisão constitucional, ao contrário do que queria a área econômica.
O ex-ministro da Fazenda e agora candidato do PSDB à presidência da República, Fernando Henrique Cardoso, sempre condicionou o sucesso do Plano Real às reformas que seriam feitas com a revisão constitucional.
A reportagem da Folha tentou falar com o candidato durante todo dia de ontem, mas até o início da noite não havia retorno aos contatos feitos com sua assessoria.
Abuso de preços
O governo trava uma luta interna sobre a forma de coibir abusos de preços. O presidente Itamar Franco e assessores palacianos defendem ação exemplar que coloque infratores na cadeia.
A área econômica é contra essa estratégia, temendo que o governo fique desmoralizado, já que a Sunab não tem estrutura para uma fiscalização generalizada. Dispõe de apenas 420 fiscais no País.

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