São Paulo, quinta-feira, 30 de junho de 1994
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Nigerianos enfrentam hoje a frágil Grécia

SÍLVIO LANCELLOTTI
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK

A Nigéria deve conquistar, hoje, diante da Grécia, no estádio de Foxboro, subúrbio de Boston, a sua passagem às oitavas-de-final da Copa dos EUA.
O jogo vale pelo Grupo D da competição, liderado pela Argentina. À Nigéria basta um simples empate. Como de costume, a equipe dirigida pelo holandês parlapatão e provocativo Clemens Westerhof, entrará em campo com um único objetivo - o ataque.
Dificilmente sofrerá perigos provocados pelo time em plena crise de outro falastrão menos simpático, Alketas Panagoulias.
Na verdade, a Grécia apenas luta pela sua dignidade e pela chance de, ao menos, anotar o seu primeiro gol num Mundial.
Estreante no torneio, a seleção helênica já entregou duas partidas, concedeu oito tentos e não realizou nenhum. Irritada com tal impotência, a imprensa da Grécia decidiu esculhambar o treinador.
Panagoulias, 60 anos, o mister mais velho da Copa, reagiu de modo truculento e proibiu os jornalistas de frequentarem a sua concentração: "Não tolero injustiças. Sou o melhor técnico que o meu país já teve".
Em duas pelejas, Panagoulias já escalou, como titulares, 17 dos 22 atletas à sua disposição, inclusive dois arqueiros. Diante da Nigéria, promete novas modificações.
Um prêmio de consolação aos seus jogadores - que provavelmente nunca mais terão a chance de participar de um Mundial.
Também na sua inauguração entre os melhores do planeta, a Nigéria escreve um conto bem diferente. Mister da seleção faz quatro temporadas, mais uma experiência anterior de doze meses, Westerhof efetivamente montou um belo time, fluente, jovial, competitivo.
Embora trancado a sete cadeados no seu alojamento do Holiday Inn-Mansfield, arredores de Foxboro, um abrigo integralmente vedado à mídia estrangeira, ele falou à Folha por telefone.
"Só perdemos da Argentina porque o árbitro (o sueco Bo Karlsson) se comoveu com a choradeira de Maradona. Aprendemos a lição. Contra a Grécia, faremos nós o teatro", disse o holandês.
Westerhoff evidentemente exagera. E de certo modo camufla um equívoco exclusivamente seu, a retirada do volante Samson Siasia, que dominava o meio-campo com impressionante eficiência.
"Tirei Siasia porque ele se cansou", se justifica o holandês. Além disso, no meu elenco não existem titulares ou reservas. Confio em todos os meus meninos".
Palavras de qualquer treinador. No entanto, há uma certa lógica no texto padrão de Westerhof.
Apenas ele e o norueguês Egil Olsen, já desclassificado, cuidam simultaneamente do time principal e das categorias inferiores. O que significa um conhecimento profundo de todos os seus jogadores.
Nos últimos anos, a Nigéria se demonstrou o maior celeiro do futebol da África. Levantou desde o Mundial Sub-16 ao Under-17. Arrebatou ainda a Copa do seu continente mêses antes da Copa.
São muito jovens as estrelas das "Águias Indomáveis", ou "Limão Mecânico" ou "Tulipas Negras", apelidos com que a mídia batizou os pupilos de Westerhof.
O criativo meia Augustine Okocha, enfim recuperado de uma contusão, fará os 21 em agosto. E o estupendo armador Sunday Oliseh, somente completará os seus 20 em setembro.
Observa Westerhof, lucidamente: "Ultrapassamos duas barreiras difíceis, o risco do nervosismo do combate inicial e a dificuldade natural do desafio contra a Argentina, duas vezes campeã. Respeitamos a Grécia. Mas também confiamos em nosso futuro."

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