São Paulo, quinta-feira, 30 de junho de 1994
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Como salvar o 4-4-2 que Parreira estragou

MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE

Final do empate contra a Suécia, voltou o bombardeio popular ao sistema tático da seleção brasileira. Jogar com dois volantes é burrice! Só dois atacantes é teimosia! E por aí vai...
O torcedor está certo ao espernear. O jogo de terça mostrou que o tetra não será moleza. Mas a culpa não é do 4-4-2.
Pode-se argumentar que o sistema tático com quatro defensores, quatro meias e dois atacantes não é o adequado. Mas essa questão perdeu um pouco de sentido para a Copa.
O time começou a competição com o 4-4-2 e, em quase três anos na seleção, Parreira nunca experimentou variações. É tarde para improvisar.
Mais: o sistema é bom. O São Paulo cansou de ganhar títulos dessa forma –o bicampeonato mundial, entre eles.
O que está errado, então?
A principal falha de Parreira ocorre no posicionamento dos dois meias ofensivos.
Acertadamente, o treinador apostou nos laterais como a jogada mais forte de ataque. Para municiá-los, porém, empurrou Raí e Zinho para o sacrifício.
Os meias foram instruídos a ocupar a região lateral da intermediária: Zinho, pela esquerda, e Raí, pela direita.
Supostamente, os dois ajudariam os laterais Leonardo e Jorginho nas triangulações em busca da linha de fundo.
Ao fixar Zinho e Raí, no entanto, o técnico "matou" sua principal arma.
É que, além dos seus marcadores, Jorginho e Leonardo trombam com os marcadores de Raí e Zinho. Às vezes, até com os próprios Raí e Zinho.
As laterais ficam congestionadas e as ultrapassagens na linha de fundo não acontecem.
A mesma armadilha impede as infiltrações-surpresa dos laterais em diagonal –um crime principalmente contra Leonardo, acostumado a cair pelo meio e a marcar gols em chutes de fora da área no São Paulo.
O erro deixa, ainda, a faixa central do meio às moscas. Ou melhor, à disposição de Dunga.
Isso explica por que o volante aparece tanto para finalizar. Deu 6 chutes a gol contra os suecos; o resto da seleção, 12.
A solução é simples. Basta que a seleção congestione, deliberadamente, uma lateral a cada ataque. E faça a inversão da bola para o outro lado, com rapidez e de surpresa.
Raí se deslocaria para a esquerda, por exemplo, e abriria espaços na direita para a tabela de Jorginho com outro jogador.
Em vez de estático, o trabalho dos meias ofensivos seria, portanto, pendular.
A solução esbarra, entretanto, na lentidão de Raí e Zinho. Nenhum dos dois é veloz o suficiente para se deslocar lateralmente nos 90 minutos de jogo.
No Brasil, apenas um jogador tem a capacidade técnica e pulmonar para a função: Cafu.
Entre Zinho e Raí, o primeiro é o mais indicado para sair. Mais criativo, Raí pelo menos atuou bem contra a Rússia.
Pode parecer estranho colocar na esquerda Cafu, um lateral-direito segundo Parreira.
Mas é bom lembrar que Telê Santana já usou o atleta nessa posição na final do Brasileiro de 91, contra o Bragantino.
O São Paulo levou o título.

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