São Paulo, quinta-feira, 30 de junho de 1994
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Nine Inch Nails entra na maturidade

DARCEY STEINKE
DA "SPIN"

O grupo Nine Inch Nails está em turnê pelos Estados Unidos, lançando o álbum "The Downward Spiral".
O disco foi gravado em um estúdio construído na casa onde a atriz Sharon Tate foi assassinada por Charles Mason e companhia.
O líder do grupo, Trent Reznor, diz que o clima da casa não influenciou o disco. "Com exceção do nome do estúdio (Le Pig), a maioria das letras foi feita antes que eu alugasse a casa."
A extravagância de Reznor é parte de uma rica tradição: Jim Morrison usava couro preto na era flower power, falando sobre sexo e morte enquanto todo mundo embarcava na onda hippie.
David Bowie usava maquiagem para se transformar em uma drag cósmica chamada Ziggy Stardust.
E havia o Kiss."Eles eram os maiores", diz Reznor. "Eles eram superheróis para mim."
"O quanto estamos fora de moda hoje em dia? Usamos sintetizadores, às vezes até fantasias. Fizemos um álbum conceitual, sem verdadeiros singles. Não somos de Seattle e não tocamos rock dos anos 70."
Reznor abraça a dupla hélice do sexo e da morte, criação e destruição, de um modo bastante teatral e corajoso.
Ele ataca os tabus do subúrbio de um modo que os grunges nunca farão, ligando ódio e violência a uma sexualidade que sugere até mesmo homossexualismo.
Reznor nasceu em 17 de maio de 1965, filho de pais adolescentes e viveu seus primeiros anos durante a época mais turbulenta na história recente dos Estados Unidos.
Os assassinatos de Robert Kennedy e Martin Luther King Jr., conflitos raciais, Vietnã e os assassinatos de Manson aconteceram antes que ele tivesse completado cinco anos.
Mas isto não se comparava a situação em sua casa: em 1970 seus pais se divorciaram e ele foi morar com seus avós na Pensilvânia. Ele se consolava com aulas de piano e saxofone. Acabou se formando em engenharia da computação.
Mudou-se para Cleveland e trabalhou como engenheiro assistente no estúdio de música Right Track. Sua primeira demo foi feita quando o estúdio estava fechado.
A fita foi ouvida por Steve Gottlieb na TVT Records. Adrian Sherwood mixou algumas canções e "Pretty Hate Machine" fez sucesso em 1989.
A banda viajou, o disco vendeu, os fãs apareceram, tudo isso sem muita ajuda da mídia ou do rádio.
"Pretty Hate Machine" vendeu meio milhão de cópias. Mas foi só depois do Lollapalooza de 91 que a banda passou a ter reconhecimento mais amplo.
Quando lançado, "The Downward Spiral" entrou no segundo lugar da parada da Billboard, o que representa um novo nível de maturidade para Reznor, longe da frescura do seu primeiro álbum e de seu estágio "nem aí".
Reznor chama "The Downward Spiral" de álbum conceitual; como "Tommy" do The Who e "The Wall" do Pink Floyd.
O disco conta uma história sombria e visionária, cheia de introspecção. A linha "nada pode me deter agora" –mais uma ameaça do que um mantra– é repetida em três canções.
Enveredando pelo caminho pelo qual o desespero muitas vezes leva à violência, Reznor é um poeta deprimido, cantando uma canção sobre si mesmo, como um homem batendo com a cabeça contra o chão mesmo depois que sua testa sangra.

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