São Paulo, quinta-feira, 30 de junho de 1994
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Uma fazenda no caminho de Lula

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – Nas pesquisas de opinião, a honestidade é apresentada como uma das mais importantes características de Lula. É justo: não se conhece até aqui nenhum fato revelante capaz de arranhar sua imagem. Daí a gravidade da reportagem publicada hoje pela Folha, do repórter Gustavo Krieger, atingindo seu candidato a vice, senador José Paulo Bisol.
É um arranhão que nada tem a ver com Lula, mas, explorado numa campanha eleitoral, tende a afetar a chapa do PT. A imprensa divulgou que Bisol apresentou emenda à Comissão de Orçamento, alocando recursos destinados à construção de pontes a uma cidade (Buritis), onde tem uma fazenda.
Descobriu-se que os valores estavam altos para o tipo de obra a ser realizado. O senador jurou que apenas apresentou a emenda porque não tinha nenhum interesse na obra.
A Folha visitou ontem a região, constatando que uma das pontes beneficia sua fazenda, encurtando em mais de 100 km o acesso, na época das chuvas, até a sede do município.
O fato ganha dimensão não apenas porque Bisol é vice de Lula. Mas, em especial, porque ele foi um dos mais destacados e radicais integrantes da CPI do Orçamento. Das investigações, propuseram-se cassações e punições contra os parlamentares que, direta ou indiretamente, usaram sua influência no Congresso em causa própria.
Ele ficou, aliás, insatisfeito com os resultados da CPI. Queria ir mais longe e acusava a "farsa". Tentou colocar no banco dos réus seu companheiro de partido, o deputado Miguel Arraes que, em carta a uma empreiteira, segundo divulgou Bisol, pediu uma mesada destinada à campanha eleitoral.
Não adianta Bisol ficar acusando "complô", ao ser acusado por um deslize que ele próprio condenou (e duro) em outras pessoas.
PS – Acusando FHC de se beneficiar "irregularmente" em sua campanha do Plano Real, o PT, através do deputado José Dirceu, entrou ontem na Justiça. É um indício da estratégia do partido de tentar marcar a imagem do plano como "eleitoreiro". Lula vai bater nessa tecla e, assim, quer compensar os previsíveis efeitos positivos à FHC com a baixa da inflação. Eles querem, em essência, ganhar a ofensiva.

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