São Paulo, quinta-feira, 30 de junho de 1994
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Apenas uma preliminar

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO – Sai hoje, em Paris, o habitual "panorama econômico" de meio de ano da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico). Trata-se do clube dos 25 países mais industrializados do mundo.
Não traz grandes novidades em relação ao que já se sabe sobre o momento econômico mundial. Continua ganhando força o crescimento nesses países, com mais firmeza nos de língua inglesa (EUA, Reino Unido, Austrália e Nova Zelândia) e mais dificuldades na Europa continental e no Japão.
A novidade, a rigor, é negativa. O relatório afirma que "as economias dos países da OCDE têm que se expandir mais rapidamente do que nas duas décadas passadas, para voltarem a ser sociedades de alto emprego com padrões de vida firmemente crescentes".
Em outras palavras, o padrão de crescimento a que mundo se habituou nos 20 anos mais recentes já não basta. O problema é que os especialistas da OCDE não são capazes de apresentar um modelo que permita desenhar um novo padrão.
Limitam-se a reafirmar a necessidade de uma política macroeconômica sadia, nos termos ortodoxos, acompanhada de políticas estruturais, que, no entanto, não chegam a definir com precisão. Dizem apenas que deve-se criar "moldura na qual os agentes econômicos tenham o mais amplo escopo e incentivo possível –e também a habilidade– para inovar, adaptar e trabalhar".
Seja como for, parece cada vez mais evidente que os conceitos básicos em que os economistas assentam suas recomendações estão em xeque ou mostram-se insuficientes, quando não inúteis, para os novos tipos de desafios que o mundo contemporâneo oferece.
Se essa é a realidade em países cujo grande problema é o crescimento, com a recuperação do emprego, imagine-se no Brasil, em que, além disso, há também a necessidade de derrotar a inflação.
O fato de ela permanecer baixa nos países da OCDE, por sua vez, demonstra que reduzi-la, como o real promete fazer, nem remotamente basta. Ainda que a inflação caia, permanecerão todos os outros desafios que a OCDE aponta para os países ricos. O real, portanto, mesmo se bem-sucedido, nem sequer chega a ser um jogo preliminar.

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