São Paulo, quinta-feira, 30 de junho de 1994
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Até Bisol

As emendas ao Orçamento feitas pelo senador José Paulo Bisol (PSB-RS), candidato a vice-presidente na chapa de Luiz Inácio Lula da Silva (PT-SP), propondo obras que afinal beneficiam uma fazenda sua colocam o senador numa situação bastante comprometedora, para dizer o mínimo.
O fato fica ainda mais grave quando se considera a atuação de Bisol na CPI do Orçamento. O senador foi sem dúvida um dos parlamentares que mais investigaram e corretamente trabalharam para que os envolvidos no escândalo fossem punidos. Agora, é apanhado incorrendo em vício semelhante. Há ainda mais um agravante: existem suspeitas de superfaturamento, que foram atribuídas a erro de digitação.
Não se trata, é óbvio, de prejulgar o senador, mas não resta dúvida de que a sua credibilidade sai fortemente comprometida desse episódio. De nada adianta, agora, retirar essas emendas. Também são inúteis as tentativas do prefeito de Buriti (MG), que é do PFL, de assumir a responsabilidade pelo superfaturamento. Igualmente vãs são as declarações de Lula de que o senador tem toda a sua confiança e de que, se existem dez homens honestos no Brasil, Bisol está entre eles. Para um candidato à Vice-Presidência como para a mulher de César, não basta ser honesto; é preciso, também, parecer honesto.
O fato de Lula liderar as pesquisas de intenção de voto, com grandes chances de chegar à Presidência, só torna o problema mais preocupante. De resto, é de se lamentar que um homem como o senador Bisol, que gozava de uma reputação de absoluta integridade, tenha também ele incorrido nas tão condenáveis práticas que já minaram a credibilidade de toda a classe política do Brasil. O caso do ex-deputado Ibsen Pinheiro ainda está bastante presente na memória nacional. Enfim, o episódio Bisol por certo em nada contribui para a melhoria do já tão deteriorado ambiente político brasileiro.

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