São Paulo, sexta-feira, 1 de julho de 1994
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Itamar mostra nova moeda

Leia a íntegra do discurso do presidente da República, na apresentação do real.
Senhor presidente do Congresso Nacional, senhor presidente da Câmara dos Deputados, senhores líderes do governo no Senado e na Câmara, senhores ministros de Estado, senhores jornalistas, senhoras e senhores, moços e moças,
Os homens são construídos pela vontade, e essa mesma vontade, reunida pela esperança, levanta as nações e as projeta no tempo, em sua necessária aspiração à eternidade.
A vontade, mais do que o vento e mais do que as volúveis correntes marinhas, trouxe as caravelas a esta Terra para, em seguida, abrir o caminho nos sertões, empurrar a linha de Tordesilhas até a muralha ocidental da Cordilheira e edificar a mais importante das sociedades ao sul do Equador.
A esta vontade, tão poderosa, tem faltado, ao longo dos séculos e mais ainda ao longo deste século, outra e indispensável virtude, a virtude da justiça. Desprovidos do espírito de justiça, os homens podem ser individualmente prósperos, mas não fazem ricas as nações. Desprovida de justiça, de que deve ser o instrumento prático, ao dar equidade de valor ao trabalho e aos bens, a moeda perde o respeito dos homens, e longe de servir aos povos, corrompe a sociedade, desfaz os valores morais, destroça a esperança e enfraquece a vontade.
Com a chegada do real, neste 1º de julho, o Brasil tem a oportunidade de mudar de forma definitiva o curso da sua história.
A moeda é o mais concreto dos atos de confiança das nações em si mesmas. Por isso, todos os processos inflacionários da história se relacionam com as crises políticas e com as crises morais.
É a inflação que tem cobrado dos mais pobres, daqueles que não têm como se proteger, o mais pesado de todos os impostos –o imposto da inflação. Porque são os mais pobres, os trabalhadores mais humildes, a grande maioria do nosso povo, os que vêem o seu salário ser corroído impiedosamente logo após o dia do pagamento. São eles que sentem mais de perto os efeitos de um mercado de trabalho que não acompanha o crescimento da nossa população nem as suas expectativas de uma vida melhor porque faltam os investimentos produtivos que a inflação canaliza para a especulação.
Ética e responsabilidade, transparência e diálogo são as qualidades que marcam os atos praticados em uma democracia. São essas qualidades que inspiraram o Plano Real desde a sua criação. E são elas que assegurarão o seu êxito, porque fizeram com que o plano fosse conhecido e discutido amplamente pela sociedade, pelo Congresso, pelos agentes econômicos, pelo cidadão.
Mais de uma vez eu vim a público para expressar sentimentos e inquietações do homem do povo, daqueles que, na sua busca de justiça e proteção, se voltam para o presidente da República, como depositário das suas esperanças. Fui por vezes incompreendido ao fazer isso, mas esse é um dever indeclinável do governante.
Sei que, agora, eu interpreto um sentimento de confiança da maioria dos brasileiros, de esperanças poucas vezes tão próxima de se realizar. Essa confiança deve ser a principal motivação para que o governo continue inteiramente empenhado no êxito do Plano Real. Porque essa confiança é o que está mobilizando cada cidadão que deseja o sucesso do plano. E eu não tenho dúvida de que eles são maioria, uma maioria que cresce e participa, que faz a história do novo tempo que está começando.
Senhores presidentes das Casas Legislativas, senhores líderes, senhores ministros, senhoras e senhores, moços e moças,
O empenho do governo no êxito do plano de estabilização monetária não se limitará a declarações e aos atos gerais da administração financeira. Para que a moeda seja preservada, empregaremos todos os recursos constitucionais de que dispomos. O governo não aceitará e nem permitirá que interesses particulares, nem sempre legítimos, se sobreponham aos superiores direitos da coletividade.
O governo sabe que poderá contar com a maioria dos empresários brasileiros, que, não tendo mais que acrescentar aos seus preços os elevados custos financeiros, poderão trabalhar com tranquilidade e contribuir decisivamente para o fim definitivo da inflação.
De nada nos adiantará moeda estável, se a sua estabilidade estiver fundada na recessão econômica. O nosso objetivo é o do desenvolvimento em bases seguras, com a criação de empregos remunerados com justiça de tal maneira que todos os brasileiros se orgulhem do Brasil e se disponham a defender a sua soberania.
Repito-lhes que o real é conquista política de todo o povo brasileiro, exausto das injustiças, que a inflação agrava, e disposto a fazer a pátria com a qual sonharam os nossos antepassados. Só o povo, com a sua vigilância e seu empenho ético, poderá assegurar-lhe êxito permanente.
A grandeza desta conquista transcende as circunstâncias do tempo eleitoral. Trata-se de um esforço de toda a nação, que coube ao presidente da República coordenar e administrar, a fim de, no cumprimento de impostergável dever, deixar a seu sucessor, quem quer que seja o escolhido, moeda sólida, capaz de promover o desenvolvimento, sem faltar à Justiça.
Estou certo de que, desta minha fé comungam todos os senhores e todos os cidadãos brasileiros de boa vontade.
Muito obrigado.

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