São Paulo, terça-feira, 5 de julho de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Ter raça é bom, mas não basta numa Copa

TELÊ SANTANA
ESPECIAL PARA A FOLHA

A seleção brasileira foi melhor, criou algumas jogadas de ataque, marcou um gol, classificou-se. Acho que foi o bastante. Teve, também, muita raça. É importante que um time dispute a Copa com coração.
Raça, porém, não basta. Coração ajuda, mas não é tudo. Precisamos melhorar daqui para frente. Não compreendo por que nossos jogadores estão tão nervosos, tão tensos. Afinal, já passamos da metade do caminho. Mesmo considerando que, agora, cada jogo é decisivo.
Um bom exemplo desse nervosismo foi a reação de Leonardo. É um jogador que conheço bem. Técnico, incapaz de um ato de violência. Revidar daquela maneira a uma falta que o árbitro já havia marcado não tem sentido.
A vitória pode ter dado para o gasto, mas não gostei da seleção brasileira do ponto de vista tático. Parecia que não tínhamos conjunto, não tínhamos sentido de equipe. Os passes eram dados para espaços onde não tínhamos ninguém, como se esses jogadores não estivessem habituados a atuar juntos.
Ainda não jogamos metade do que não podemos jogar. Tática e tecnicamente. Vejam os casos de Raí e Zinho. Conhecemos bem os dois e sabemos que podem render muito mais do que têm rendido nessa Copa do Mundo. Raí chegou a sai do time, dando lugar para um Mazinho talentoso, mas que acaba sendo mais um volante num time cheio de volantes.
Zinho é outro que está jogando uma Copa aquém de sua real capacidade. Foi substituído no segundo tempo, depois de 68 minutos de quase nada.
Acho bom que o treinador tenha dado uma oportunidade a Cafu, mas ali, na lateral esquerda? Cafu entrou como lateral para que Mazinho pudessese se soltar mais. Naquele lugar, quem joga é Leonardo. Ou Branco. Mesmo assim, Cafu ainda tentou algumas jogadas no caminho da linha de fundo. Quando o gol brasileiro saiu, ele já estava em campo.
Precisamos dar mais liberdade aos homens que atuam à frente de Mauro Silva. Nossa defesa jogou bem, não teve problemas. Logo, não há necessidade de armarmos barreiras defensivas contra times como o norte-americano.
Continuo achando que a seleção brasileira tem tudo para seguir em frente. O jogo com a Holanda é melhor do que seria contra a Irlanda. Mas temos que melhorar.

Texto Anterior: Brasil e Holanda pode ser o jogo da Copa
Próximo Texto: Nigéria e Itália fazem em Boston jogo dos opostos
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.