São Paulo, quarta-feira, 6 de julho de 1994
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Itamar cobra explicações para juro alto

SÔNIA MOSSRI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Erramos: 07/07/94

O crédito correto da foto em que aparece o presidente Itamar é Márcio Arruda 5 jul. 94/Folha Imagem. Itamar cobra explicações para juro alto
O presidente Itamar Franco vai cobrar redução das taxas de juros, em reunião hoje à tarde com os ministros Rubens Ricupero (Fazenda), Alexandre Dupeyrat (Justiça) e Beni Veras (Planejamento).
Também participam da reunião, às 17h, o presidente do Banco Central, Pedro Malan, e os líderes na Câmara, Luiz Carlos Santos, e no Senado, Pedro Simon.
Itamar convocou os ministros para avaliar os primeiros dias do real e discutir as taxas de juros.
O presidente cobra diariamente do ministro da Fazenda, Rubens Ricupero, uma explicação sobre a alta das taxas. Itamar teme que a elevação dos juros aumente os lucros do sistema financeiro e gere recessão.
"Vou conversar com o ministro (Ricupero) sobre os juros. Eu sempre acho taxa de juro alta", comentou ontem o presidente sobre a elevação das taxas na segunda-feira. No mesmo dia, Itamar telefonou para Ricupero.
A Fazenda acha que não terá condições para baixar as taxas de juros já em agosto, como quer o presidente. Itamar avisou a Ricupero que aceita juros altos por 30 dias. Depois disso, ele quer rediscutir o Plano Real.
A disparidade dos diversos índices de preços deverá deixar o mercado confuso e, por isso mesmo, será preciso conservá-las elevadas para evitar fuga das aplicações financeiras.
Ricupero procura persuadir Itamar de que as taxas de juros já cairam em julho. O ministro argumenta que os juros saíram de um patamar de 50% ao mês para algo inferior a 10%.
Na verdade, o que provocou a redução foi a expectativa de queda da inflação em julho. As taxas cobradas acima da variação dos índices de preços continuam altas.
O ex-presidente do Banco Central, Gustavo Loyola, conhecedor da implicância de Itamar com os juros altos, diz que "não existe data marcada para baixar os juros".
Segundo ele, as declarações do presidente tumultuam o mercado.
Ricupero tem feito uma catequese diária junto ao presidente para tentar convencê-lo a aceitar juro alto na primeira fase do plano.
Um dos principais argumentos de Ricupero junto a Itamar é que o Banco Central não pode baixar as taxas enquanto não existir certeza de que os índices de inflação estão realmente despencando.
Ricupero, seu assessor especial, Edmar Bacha, e o chefe de gabinete, Sérgio Amaral, defendem juro alto só na fase inicial do plano.
Assim que a inflação der demonstrações claras de queda, os juros poderiam começar a cair.
Já o presidente do Banco Central, Pedro Malan, o diretor de Política Monetária, Alkimar Moura, o diretor de Assuntos Internacionais, Gustavo Franco, e o presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Pérsio Arida, consideram imprescindível a manutenção de taxas altas por período superior a 90 dias.
O grupo encabeçado por Malan teme que a queda da taxas de juros acabe colaborando para o naufrágio do Plano Real.
Na prática, eles querem evitar mesmo cenário do Plano Cruzado (fevereiro de 1986), no governo Sarney.
No Cruzado, as taxas de juros reais (acima da inflação) não ultrapassaram, em média, 1% ao mês. Chegaram a ser negativas (abaixo da inflação), contribuindo para a explosão do consumo.

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