São Paulo, quarta-feira, 6 de julho de 1994 |
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A Itália não é nada mas é sempre a Itália
JOHAN CRUYFF
Escrevi, antes de começar o Mundial, que um dos poucos jogadores que podiam chegar ao fim do campeonato com o título de melhor jogador era o italiano Roberto Baggio. Também escrevi que, se ele não conseguisse se destacar agora, já não teria outra oportunidade para passar de bom jogador a estrela. Pois bem, Baggio não conseguirá a distinção máxima porque está muito longe daqueles jogadores que desequilibram. Mas os italianos terão sempre que lhe agradecer pelas duas aparições esporádicas que fez ontem contra a Nigéria, e que colocaram a Itália nas quartas-de-final. A Itália atual não é nada. É talvez a pior seleção do país dos últimos anos, quanto ao jogo e à criatividade. Não há ninguém que seja capaz de dirigir, de pensar, de levar a equipe. É só correr e avançar no campo, mais por espírito que por qualidade. No entanto, a Itália tem algo que a faz temível, e isso não é outra coisa senão seu nome. Itália é sempre Itália. Quando pensamos que está morta, aparece um jogador qualquer e salva todo um país do fracasso coletivo. Esta seleção não tem nada do Milan fabricado por Arrigo Sacchi. Não tem nem a qualidade técnica nem a pressão sufocante que fez daquela equipe a melhor da Europa. O jogo entre Itália e Nigéria foi, de longe, o pior das oitavas-de-final. Muito provavelmente os nigerianos se lembrarão pelo resto da vida que perderam a vitória que já tinham nas mãos única e exclusivamente porque acreditaram que podiam assegurar a classificação com um mínimo de esforço. A Nigéria foi conformista demais. Pensou que a Itália seria incapaz de marcar. E faltou um minuto para fazer deste sonho realidade. Seguramente, os jogadores da Espanha, próxima adversária da Itália, viram a partida com uma tranquilidade incomum, a tranquilidade que dá ver duas equipes que mesclam a falta de ambição (Nigéria) e a falta de qualidade (Itália). O único problema é que nunca se pode tirar uma conclusão definitiva por uma, duas ou três partidas, porque, de repente, aquela equipe que parecia fácil se transforma em um adversário difícil. E Itália é Itália. Texto Anterior: Até agora, uma boa Copa dos atacantes Próximo Texto: Todas as seleções melhoraram na 2º fase Índice |
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