São Paulo, quarta-feira, 6 de julho de 1994
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Palestino teme impasse do processo da paz

SÉRGIO MALBERGIER
DO ENVIADO ESPECIAL

Iasser Arafat se disse }muito preocupado com o futuro do processo de paz.
Sua volta aos territórios ocupados, que ele espera transformar em um Estado palestino até o final do século, pode transformá-lo num mero governador de Gaza, caso ele não consiga superar os obstáculos e os impasses que a administração da autonomia de Gaza e Jericó começam a apresentar.
O maior desafio é o econômico. Nos quatro dias que passou em Gaza, viu com os próprios olhos a miséria e falta de infra-estrutura mínima, resultado dos 27 anos de ocupação israelense.
Passada a euforia com a volta de seu líder nacional e, principalmente, a saída do implacável Exército de ocupação, a população de Gaza vai exigir de seus novos líderes melhorias mínimas das condições de vida.
Arafat repetiu em Gaza o apelo para que os países ricos honrem as promessas de fundos de até US$ 2,5 bilhões para a autonomia palestina. }Se a situação não melhorar, os palestinos vão me ouvir uma vez, duas vezes, três vezes, mas depois não sei o que pode acontecer, disse.
No dia que passou em Jericó, Arafat falou do objetivo de }criar um Estado palestino com capital em Jerusalém e constatou que o pedaço da Cisjordânia que Israel deu à entidade palestina não passa mesmo de }um símbolo da união entre a faixa de Gaza e a Cisjordânia, o centro da vida econômica e cultural palestina.
É por isso que ele pediu que seja acelerada a retirada das tropas israelenses das cidades palestinas da Cisjordânia. Concessões nesta área, porém, serão mais difíceis para o governo israelense.
Enquanto Gaza não tem valor estratégico nem simbólico, a Cisjordânia está a até 15 km da costa onde se concentra a maioria da população israelense, além de abrigar locais de relevância religiosa para os judeus.
Sem ter feito declarações bombásticas nos vários discursos que proferiu, o comportamento de Arafat chegou até a ser elogiado pelo governo israelense.
Mesmo assim, a oposição conseguiu mobilizar 100 mil pessoas numa manifestação em Jerusalém no final de semana.
Quando em dois anos ele começar a falar sério sobre as reivindicações palestinas sobre Jerusalém, a volta dos milhões de refugiados palestinos e o fim das colônias israelenses em Gaza e Cisjordânia, a situação pode se tornar explosiva.
A esperança é que até lá a entidade palestina recém-criada tenha provado que a convivência pacífica tem muito mais valor do que pedaços de terra. (SM)

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