São Paulo, quinta-feira, 7 de julho de 1994
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Advogado de médica recorre de condenação

MARCELO MIGLIACCIO
DA SUCURSAL DO RIO

O advogado Ubiratã Guedes disse que entra hoje com recurso na 17ª Vara Cível do Rio para tentar anular a condenação da ginecologista Maria Heloísa Aló Filgueiras, acusada de desvirginar uma paciente durante exame.
Segundo Guedes, não existe prova de que a escriturária Cacilda Pereira Barbosa Filha, 29, era virgem quando submeteu-se a exame no consultório da médica, em dezembro de 89.
Na última sexta-feira, sentença da 17ª Vara condenou a médica a pagar indenização de 100 salários mínimos (R$ 6.470,00) a Cacilda. Cacilda alega que a médica sabia que ela era virgem, mas não olhou sua ficha antes do exame. Ela procurou a médica por indicação de uma amiga, para tratar de um corrimento vaginal.
"Acho que ela está chantageando minha cliente. O laudo do IML (Instituto Médico Legal) diz que Cacilda 'pode' ter sido desvirginada, e não que foi", disse o advogado de Filgueiras.
Guedes sustenta que as testemunhas arroladas por Cacilda –um médico e uma amiga– não garantiram em juízo que ela era mesmo virgem na época da consulta.
"Cacilda ainda afirmou no processo que tomava pílula anticoncepcional para regular a menstruação, mesmo dizendo-se virgem. Falou também que passou mal, mas saiu andando da consulta", disse Guedes.
O advogado da ginecologista desconfia ainda da conduta da escriturária. "Se ela se manteve virgem até os 24 anos, seria natural que tivesse mais receio de se expor à imprensa".
Guedes exigirá novos exames, "de catedráticos", em seu recurso. A ação deve ser julgada no Tribunal de Justiça do Rio em setembro, previu o advogado.
"Vão perder de novo", previu Célia Destri, advogada de Cacilda e fundadora da Associação das Vítimas de Erros Médicos.
Célia diz que coordena cerca de 300 ações contra médicos. Ela perdeu um rim num tratamento. "Quando fundei a associação, disseram que eu era louca de enfrentar essa máfia", afirma.
No Cremerj (Conselho Regional de Medicina do Rio), corre um processo para apurar as responsabilidades de Maria Heloísa Filgueiras no caso de Cacilda.

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