São Paulo, quinta-feira, 7 de julho de 1994
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Escolas conseguem lucro médio de 7,52%

PAULO SILVA PINTO
DA REPORTAGEM LOCAL

Escolas de São Paulo tiveram lucro médio de aproximadamente 7,52% sobre seu faturamento em maio, segundo a CNA Consultores, que atende 70 estabelecimentos de ensino de pré-escola ao 2º grau.
Para julho, a previsão dos consultores é de que isso deve diminuir um pouco porque desaparece o ganho financeiro dos prazos de recolhimento de impostos (veja quadro ao lado).
Mas, se não houver despesas imprevistas, vai sobrar dinheiro do item "reserva", resultando em números próximos aos de maio.
Em abril a rentabilidade foi de 8,46% e em março, de 15,19%. Para Márcio Orlandi, 51, da Fundamental Research Consultoria, que atende empresas de outros setores, o resultado apresentado pelas escolas pode ser considerado "mais que razoável".
Para a avaliação ele considera o baixo risco financeiro da escola –é muito difícil uma "fuga em massa" dos alunos e da receita de um mês para outro– e um risco civil um pouco maior –são muitas crianças e adolescentes sob responsabilidade dos proprietários.
Mas Orlandi acha que o resultado só é possível em um modelo de escolas particulares como o brasileiro, em que predominam instalações adaptadas em prédios alugados e improvisados para a escola.
O lucro sobre patrimônio também é bem superior ao que paga o mercado financeiro. Sobre o capital empatado do Colégio Oswald de Andrade, por exemplo, de US$ 100 mil, houve retorno de US$ 70 mil (70%) no ano passado, acima da média do mercado financeiro. O overnight está hoje com juros projetados para 45% ao ano.
Eugênio Cordaro, 40, um dos proprietários da CNA e do colégio Oswald de Andrade, acha, porém, que a situação não é tão atraente assim.
"Do que recebemos, tivemos que investir US$ 50 mil só em informática com fins educacionais. Quem não fizer isso neste momento vai ficar para trás", afirma.
Além disso, não são todas as escolas que conseguem manter uma situação tão estável.
Dois terços dos seus clientes da CNA estão com lucro abaixo da média. É o caso da escola B (veja quadro ao lado), que não permitiu a divulgação de seu nome e deve fechar o ano no vermelho.
Cinco das 70 escolas atendidas pela CNA estão à venda desde o início do ano, sem encontrar compradores.
O consultor João Paulo Nogueira, 40, um dos proprietário da CNA, afirma que pelo menos a situação financeira dos estabelecimentos de ensino melhorou. Há seis anos a maioria era deficitária.
Mas, para Mauro de Salles Aguiar, diretor do Colégio Bandeirantes, um indicador de que escolas continuam não sendo um negócio dos mais atraentes do mercado é a ausência de novos investimentos por parte de pessoas de fora do setor.
A disparidade entre o lucro das escolas ocorre pela variação de custos que influem na qualidade mas podem não ser claros aos pais.
Além de equipamentos, há o preço da hora-aula, trabalho fora das classes (no Bandeirantes 45% da remuneração de professores é para atividades como preparo de laboratórios e programas de computador etc).
Entre as escolas que estão com lucro acima da média, há resultados supreendentemente altos, como o da escola A (que também não permitiu a identificação), com uma rentabilidade de 47% sobre seu faturamento.
Se a remuneração dos sócios fosse menor, ela daria lucro até com a MP 524 –aquela que foi derrubada pelo Supremo Tribunal Federal e diminuía em 50% a mensalidade das escolas.
O presidente do Sieeesp (sindicato das escolas particulares de São Paulo), José Aurélio de Camargo, 45, diz que não conhece nenhuma escola nesta situação. O Sieeesp não pede a seus associados as planilhas de custos.
"A lucratividade é resultado de competência gerencial e é indispensável para novos investimentos", afirma.
Segundo o Conselho Estadual de Educação, desde 1991 as escolas estão desobrigadas, por lei federal, a apresentar ao órgão suas planilhas de custos.

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