São Paulo, quinta-feira, 7 de julho de 1994
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Paulistano sobe a serra para 'ferver'

DANIEL CASTRO
DA REPORTAGEM LOCAL

Todas as noites de sextas e sábados, cerca de 2.000 pessoas saem de São Paulo, atravessam a Serra da Cantareira e lotam um bar que, aparentemente, não tem nada de especial, nem música de fita.
O lugar, chamado Bar do Pedrão, é um boteco rústico, com chão de terra, isolado na vegetação da serra. Fica a 24 quilômetros do centro de São Paulo, a beira de uma estrada que nem aparece nos guias de ruas.
Mas é o endereço mais "fervido" das serras da região metropolitana. Às 2h da última sexta-feira, o estacionamento do bar, com 300 vagas, estava lotado e havia carros nos dois acostamentos da estrada.
"O único charme do bar é frequência. As pessoas vêm aqui porque sabem que vão encontrar muita gente", diz Arildo Pereira da Silva, 25, um dos sócios.
O Pedrão, no entanto, não é nenhum "paqueródromo". A maioria dos frequentadores é do sexo masculino, com menos de 30 anos. Na madrugada, os casais vão embora e mulher vira raridade.
"Adorei esse lugar. Tem muito mais rapazes do que garotas", comemorava a estudante Gisele Meleiro da Silva, às 3h da madrugada de sexta para sábado.
Gisele e sua amiga Thais Raid Ribeiro, 16, ainda não conheciam o Bar do Pedrão. "É melhor que os bares de Pinheiros. Lá tem muita briga", concluiu.
No frio, o principal "combustível" do Pedrão atende pelo nome de "canelinha".
Trata-se de uma mistura de vodca com canela que "esquenta" os adolescentes. Mais de 180 litros da bebida são vendidos por noite, em copos de 300 ml.
"Não faz mal a escassez de mulheres. A gente vem aqui para conversar e curtir o frio", disse o estudante Anderson Hayafuji de Aguiar, 15, segurando um copo de canelinha. "É só para esquentar."
Ele afirma que "bate cartão" no Bar do Pedrão. Mora em Guarulhos, distante 15 quilômetros.
"Vale a pena vir aqui. O pessoal é descontraído, dá para fazer amizades", confirma Luciano Kitahara, 18, o mais velho dos quatro rapazes da turma de Anderson.
A invasão do bar pelos adolescentes é recente, segundo os proprietários.
O local, que existe desde 1939, sempre foi frequentado por motoqueiros, jipeiros e ciclistas que enfrentam as trilhas da Cantareira.
Aventura
Para chegar ao Bar do Pedrão, é preciso um pouco de "espírito de aventura" e de coragem para enfrentar o frio, mais intenso que na cidade.
O ponto mais alto da serra fica a 1.161 metros do nível do mar. Equivale à altitude da avenida Paulista mais uma montanha de quase 300 metros.
O acesso ao bar do Pedrão é o maior obstáculo. Depois de atravessar a zona norte, enfrenta-se a serra da Cantareira, em uma estrada escura, sinuosa e deserta.
No topo da montanha há uma bifurcação. A estrada do lado direito leva ao Bar do Pedrão, seis quilômetros adiante.

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