São Paulo, quinta-feira, 7 de julho de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Ficou na Copa um Brasil desfigurado

ALBERTO HELENA JR.
EM LOS GATOS

Os encantos da Copa foram se acabando. Maradona, e sua milagrosa recuperação, se foi antes mesmo da Argentina ser despachada. Foi o melhor momento técnico da Copa, aquela Argentina com três atacantes, sob a batuta de Maradona.
Antes disso, a Colômbia e seus maravilhosos crioulos já haviam dado o vexame de uma desclassificação trágica. Não que eu esperasse dela o mesmo que Pelé –o título. Mas achava que a Colombia poderia dar um colorido mais vivo a esta Copa cinzenta. Assim como me supreendi com alguns instantes mágicos da Arábia Saudita e da Nigéria. Mas o futebol negro tinha o destino traçado, e o que restou foi um bando de europeus contra o nosso Brasil.
Mas um Brasil desfigurado, que só tem compromisso com a própria segurança, não com sua história, sua escola, enfim, para usar um termo pedante, com sua cultura futebolística. Isso não quer dizer que se clame por um time irresponsável, que jogue, na expressão de Zagalo, apenas bonitinho, não. O que se pede é um futebol no qual se harmonizem espírito de competividade e imaginação, como foi em 58, em 62 e em 70.
Aliás, é bom lembrar dos títulos conquistados, pois quer-se por aqui estabelecer uma discussão nos seguintes termos: quem critica a seleção de Parreira exalta o futebol retórico e inconsequente da Colômbia, de Camarões, da seleção de 82; quem apóia Parreira e seu time está com os vencedores, os competitivos, aqueles que jogam feio mas levantam a taça. O Brasil levantou a taça três vezes, jogando bonito. Em contrapartida, jogando o tal futebol de competição, retrancado, perdemos não uma, como a de 82, mas quatro - as de 74, de 78, de 86 e de 90.
Resumindo: nada tem que ver uma coisa com a outra. Pode-se jogar feio e ser campeão, como a Itália, a Argentina de 78 e possivelmente o Brasil de agora. Mas pode-se jogar bonito e também ser campeão.
E não é preciso fazer um esforço muito grande para saber quem a história consagrará e quem ela tratará de esquecer. Basta que agora você me diga qual jogador brasileiro, ainda que campeão do mundo, entrará para a seleção brasileira de todos os tempos?
Zizinho, que não foi campeão, está certamente na de seus contemporâneos. Dunga estará na sua?

Texto Anterior: Planos do time vão até sábado
Próximo Texto: "Conquista lembra Revolução"
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.