São Paulo, quinta-feira, 7 de julho de 1994
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Parreira amarra time com o futebol-pebolim

MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE

O futebol-pebolim. Essa é a melhor definição para o estilo da seleção na era Parreira.
Pebolim é um jogo que transpõe para a mesa os princípios do futebol. No Rio e em outras regiões do Brasil, é conhecido como totó.
Nele, os 11 jogadores são presos em quatro linhas –um goleiro, dois zagueiros, cinco meias e três atacantes.
Estudo publicado no Copa 94 em 29 de junho e 5 de julho mostrou que, a exemplo dos "atletas" do pebolim, os homens de Parreira não trocam de posições –estão "travados".
Os quadros mostravam a movimentação no gramado dos meio-campistas nas partidas contra Suécia e EUA. Para a análise, o campo foi dividido em nove pedaços, como num jogo da velha.
O acompanhamento revelou que os jogadores da seleção resignam-se a atuar em faixas imaginárias do campo, principalmente as longitudinais.
Alguns números:
1) Zinho ficou esquecido no lado esquerdo contra os suecos. Tocou 40 vezes na bola naquela faixa, contra apenas duas no lado direito (ainda assim em cobranças de escanteio).
2) Também contra a Suécia, Raí participou de três jogadas de linha de fundo pela direita. Pela esquerda, nada.
3) Antes da expulsão de Leonardo, contra os EUA, Mazinho não escapou à camisa-de-força e repetiu os vícios de Raí –a quem substituíra. Tocou na bola em 16 oportunidades na faixa direita, contra 6 na ala esquerda.
Quem viu os quatro jogos da seleção na Copa do Mundo não tem dúvidas. A falta de deslocamentos no meio-campo gera o isolamento dos atacantes Bebeto e Romário.
Um dos sintomas: o Brasil só chutou mais a gol do que a Romênia entre os classificados para a terceira fase do Mundial.
O time brasileiro finaliza, em média, 14 vezes por partida. Os holandeses, adversários de sábado, arriscam mais –20 vezes por jogo.
A missão de Parreira, portanto, continua desburocratizar a tarefa dos meio-campistas.
Não importa se Zinho, Raí ou Cafu (Paulo Sérgio não!!!), um escolhido deveria ter a liberdade que a estrela italiana Roberto Baggio recebeu para virar o confronto de anteontem contra a Nigéria.
Vale lembrar que o Brasil só marcou seu gol contra os norte-americanos quando o plano de jogo armado por Parreira tinha ido para o brejo.
A equipe estava com um jogador a menos em campo. Cafu entrara na lateral-esquerda e Mazinho fora obrigado a assumir sozinho as funções ofensivas do meio-campo.
A movimentação forçada destruiu o esquema-pebolim e garantiu a classificação.
O duelo contra a Holanda pelas quartas-de-final é uma boa chance –talvez a última– para o treinador da seleção dar criatividade ao meio-campo.
Os holandeses possuem uma defesa capenga e têm atuado com um sistema tático ofensivo. Que os meias brasileiros, então, aproveitem as brechas.
Afinal, é muito arriscado torcer para que alguém seja expulso de novo.

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