São Paulo, quinta-feira, 7 de julho de 1994
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Flanar é o passatempo do verão parisiense

Passear sem compromisso na cidade encanta os sentidos

EDNEY CELICE DIAS
ENVIADO ESPECIAL A PARIS

Flanar, flanar, flanar. Para se atingir o significado de determinadas palavras, nada como estar no lugar certo no tempo certo. Nada como flanar (do francês "flâner") na primavera/verão parisiense.
O sol nesse período do ano releva a cidade e as formas femininas. As tardes são febris (não são raras temperaturas acima de 30oC), as roupas são leves e ressaltam os corpos bem-cuidados.
Os aromas cítricos parecem prevalecer durante o dia. Neste verão as parisienses transpiram a colônia Tendre Poison, no momento o aroma mais anunciado da cidade.
As noites são amenas, 18oC. Sugerem bom vinho, bom jantar, boa companhia, boa música, cinema, um bom tudo.
Há uma sensualidade que vem com o orvalho e o luar, de responsabilidade exclusiva da natureza, dos cosméticos e da costura local.
Os sabores estarão sempre à disposição. Em um simples "croissant", em um elementar iogurte, ou em apenas um chá trivial, constata-se um zelo inigualável com o paladar, um respeito profundo na elaboração daquilo que se come.
As vitrinas sempre guardam surpresas, variando desde o caro refinamento da avenida Montaigne (que concentra a alta costura, no Champs Elysèes) até as pechinchas nas pequenas lojas espalhadas pela cidade e nos magazines.
Paris é... o encanto dos sentidos. Mesmo abstraindo-se tudo o que a cidade representa como patrimônio cultural da humanidade, ainda assim ela resulta "parisdisíaca", adornada de todo o sortilégio.
Como uma obra labiríntica e concentrada de significado, mais do que descobrir, seguidamente redescobre-se Paris.
Semelhante ao livro do escritor argentino Julio Cortázar (1914-84), pode-se fazer um "jogo da amarelinha", criando uma maneira pessoal e aleatória de conhecer a cidade.
Flane, caminhe livremente!
A monotonia cromática dos edifícios há de absorver a alma de quem anda sem compromisso por Paris.
Cor da pedra ou branco, nada mais. Essa mínima variedade de cores é quebrada caprichosamente pelas vitrinas, o colorido dos cafés e pela bandeira tricolor francesa efusivamente hasteada nos prédios de governo compõem uma receita infalível de elegância urbana.
Os anúncios de produtos ou de espetáculos nas ruas, no metrô, na TV, nas revistas etc. teimam em tocar a intimidade do desejo.
Mostram mulheres ingenuamente nuas, casais em descuidada intimidade. Porque de uma sensualidade sugerida, são inapelavelmente sensuais.
Frise-se, como em "O Jogo da Amarelinha", não é necessária uma leitura linear, não é obrigatório seguir um roteiro preestabelecido para explorar Paris.
Eleja-se um itinerário qualquer: Boulevard Montparnasse, por exemplo; daí toma-se a rue de Rennes em direção a Saint Germain des Près e a ponte das Artes; ou então quebre o caminho pelo Jardim Luxemburgo e siga para a Sainte Chapelle.
A escolha descompromissada sempre será a melhor.

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Sobre Paris nas págs. 6-10 e 6-11.

O jornalista EDNEY CELICE DIAS viajou em ferrovias européias a convite da Companhia Italiana de Turismo/Eurailpass.

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