São Paulo, quinta-feira, 7 de julho de 1994
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Leipzig é a terra da música e do bom livro

SILVIO CIOFFI
DO ENVIADO ESPECIAL À ALEMANHA

"Das Kapital, Kritik der Politischen Oekonomie" (ou "O Capital, Crítica da Política Econômica"), numa edição de 1903, custa mil marcos –cerca de R$ 650– no sebo instalado na Antiga Prefeitura, em Leipzig.
O preço não chega a ser uma pechincha e o curioso é que a obra de Karl Marx tenha sido transformada em objeto do desejo justo ali, por onde em 1989 passaram as manifestações que derrubaram o socialismo no leste da Alemanha.
Um dos apelidos de Leipzig é justamente "cidade do livro". Foi lá que um artesão itinerante imprimiu um dos primeiros tratados de que se tem notícia, em 1481.
Já o prédio que foi sede da prefeitura, mostrado em qualquer livro sobre a cidade, é de 1556 e foi modificado em 1672.
Sua bela fachada renascentista foi restaurada, exibe uma torre de relógio e, na verdade, o conjunto funciona como centro comercial.
Há ainda a igreja de São Nicolau, de onde partiram as manifestações pioneiras contra o regime, em 1989, outra atração local.
Mas Leipzig é também chamada de "cidade da música" e já sediava audições no século 13.
O compositor Johann Sebastian Bach trabalhou lá entre 1723 e 1750, quando morreu.
Na igreja de São Tomás uma estátua rende homenagem ao músico, enterrado próximo ao altar.
Leipzig foi também onde morou e morreu Félix Mendelssohn-Bartholdy –de origem judia– e onde nasceu Richard Wagner –um anti-semita–, músicos que encantaram o mundo.
Até a Segunda Guerra Leipzig tinha oito sinagogas, hoje tem uma.
Nos anos 20 muitos dos judeus produziam estolas de pele. Eram cerca de 1.400. Hoje Leipzig tem cerca de 70 judeus.
Ao longo da história, independentemente do credo, anônimos e celebridades como Goethe, Liszt, Wagner e Schumann frequentaram o Zum Café Barun, na rua Barfssgãsschen, bar de 1694.
Exatos 300 anos se passaram e nem o café não escapou das obras, devendo ser reaberto só em 1996.
Mas nem tudo está em reformas. Restaurada com lojas elegantes, a Mãdler Passage, está do jeito que era no século passado.
Um "happy-hour" diabólico nessa galeria acontece no bar Mephisto. Já um jantar elegante tem lugar no subsolo, onde funciona o restaurante Auerbacks Keller, frequentado por Goethe e decorado com cenas alusivas a seu romance "Fausto". Os gastos giram em torno de 50 marcos (cerca de R$ 32) por pessoa. (Silvio Cioffi)

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