São Paulo, quinta-feira, 7 de julho de 1994
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Dresden recupera esplendor da Saxônia

SILVIO CIOFFI
DO ENVIADO ESPECIAL À ALEMANHA

Reconstruir é novamente a palavra de ordem na capital da Saxônia, que tinha cerca de 525 mil habitantes em 1989 e onde hoje vivem 480 mil pessoas.
É que Dresden, uma cidade repleta construções barrocas e burguesas, entrega-se agora à uma nova fase de restaurações.
Mas se os anos de socialismo foram cruéis para a arquitetura, nada pode ser comparado ao que ocorreu na chamada "Noite do Apocalipse".
Entre 13 e 14 de fevereiro de 1945, no fim da Segunda Guerra Mundial, os aliados bombardearam Dresden com toneladas de dinamite e fósforo.
Na ocasião foram destruídos 174 mil prédios, 20 igrejas, 40 hospitais e clínicas, 35 escolas, 30 edifícios históricos e 100 mil pessoas morreram.
Os governos do pós-Guerra relegaram a conservação da Dresden histórica a um segundo plano.
Mas até por isso tiveram o mérito de "congelar" o progresso urbano e de conservar intactos uma arquitetura e um estilo de vida que parecem saídos de um livro de gravuras antigas.
Agora, as casas que não estão em pendências judiciais, reclamadas por seus antigos proprietários, rapidamente se transformam em palacetes.
Alguns dos mais belos exemplos de arquitetura barroca estão em Dresden, onde um " vento do leste" começou a soprar já no século 12.
Cidade eslava que foi germanizada, a capital da Saxônia dista apenas 40 km da fronteira com a República Tcheca.
Às margens do rio Elba, ao longo do qual foram erguidos diversos castelos e pontes, Dresden também foi pintada pelo italiano Bernardo Bellotto, o Canaletto, comparada a Veneza e chamada de "Florença do Elba".
No centro velho, repleto de construções barrocas, nada escapa da restauração que em pouco tempo deve devolver à cidade seu antigo esplendor.
A catedral (1754), obra do arquiteto italiano Gaetano Chiaveri, está coberta com andaimes e cada torre tem seus detalhes repintados com ouro.
O mural de cerâmica de 101 metros, na rua Fstenzug, com cenas que aludem a reis e príncipes, também não passou incólume à uma boa limpeza.
O Zwinger, um impressionante conjunto de palácios e estátuas que teve sua construção iniciada em 1710 –e é considerado o mais belo no estilo barroco da Alemanha–, também está cercado por guindastes.
Com todas essas restaurações a capital rapidamente retoma seu lugar de uma das cidades mais belas da Europa.
Saudosistas dizem que Dresden, como Viena, teve ao lado da tradição intelectual, a fama de uma cidade fervilhante, repleta de cafés.
A tradição acabou nos anos de Guerra Fria, quando o café vindo de Cuba se tornou escasso.
Mas como reconstruir sempre foi a palavra de ordem na capital da Saxônia, é bem possível que esta tradição de cafés seja retomada.
A julgar pelas obras que reerguem a catedral de Nossa Senhora, de 95 metros de altura, não se pode duvidar da pertinácia dos alemães de Dresden.
Bombardeada em 1945, a catedral foi totalmente destruída. Desde então, num meticuloso trabalho de quebra-cabeças, as pedras foram numeradas e a reinauguração está marcada para o ano 2006.

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