São Paulo, domingo, 10 de julho de 1994 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
Crianças e adolescentes produzem os caixões
ARI CIPOLA
São dez garotos que se revezam no trabalho de produzir os caixões. Todos são filhos do suplente de verador Cícero José dos Santos (PPR), 44. As 154 crianças com menos de um ano que morreram este ano na cidade tiveram o caixão pago pela prefeitura. O município gastou, em maio, 1,5% de sua receita no mês (US$ 100 mil) para enterrar suas crianças. A Agência Folha teve acesso ao talão de notas fiscais da funerária. A média de gastos com o serviço funerário, segundo o prefeito Florentino Santana (PSDB), é de 0,7% do orçamento. O proprietário da agência funerária Padre Cícero, onde são produzidos apenas caixões para crianças, está no ramo há quase dez anos. Santos disse que vendeu a farmácia que possuía, em 1986. Nesse período, Teotônio Vilela, segundo ele, virou uma espécie de parada de pistoleiros nordestinos. Aconteciam cinco assassinatos por semana na cidade. O fato de colocar os filhos no trabalho de produzir caixões que serão usados por crianças não assusta Santos. "Estou profissionalizando meus filhos desde pequenos", disse. Ele coloca seu filho Aldo, 10, por exemplo, para vestir as crianças mortas. A reportagem da Agência Folha acompanhou os irmãos Aldo e Júnior, 18, vestindo e limpando o corpo da menina Maria de Fátima, de 28 dias, morta na sexta-feira. "Não tenho medo. É o meu trabalho", afirmou, Aldo. Sua irmã, Aldira, diz não conseguir fazer o mesmo trabalho do irmão. Aldira faz apenas o serviço de forrar externamente com o plástico azul os pequenos caixões. Texto Anterior: Miséria banaliza a morte em Teotônio Vilela Próximo Texto: Maioria dos bebês sofre de desnutrição aguda Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |