São Paulo, domingo, 10 de julho de 1994
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Chacina da Candelária tem novos acusados

RONI LIMA
DA SUCURSAL DO RIO

Às vésperas de completar um ano da chacina da Candelária, em 23 de julho, os dois promotores que atuam no caso se preparam para denunciar à Justiça outros envolvidos no crime.
Até agora, quatro acusados estão presos pelo assassinato de oito meninos de rua que perambulavam pela vizinhança da igreja da Candelária (centro do Rio). Eles podem ir a júri popular até dezembro.
A partir do depoimento de sobreviventes, os promotores José Mui¤os Pi¤eiro Filho, 37, e Maurício Assayag, 35, acreditam na participação de outras pessoas.
"No mínimo oito pessoas participaram da chacina. Talvez até mais", diz Pi¤eiro. Os promotores esperam denunciar outros eventuais envolvidos em 30 dias.
Eles aguardam apenas a conclusão de inquérito que investiga o caso da apreensão, em maio, no interior do Estado do Rio, de uma das armas usadas na chacina.
Ela foi encontrada com o soldado da PM Arlindo Lisboa Afonso Júnior, preso em um carro furtado.
O PM negou participação no crime, afirmando que comprara a arma de um PM que já morreu.
Os promotores não revelam os nomes dos prováveis denunciados, mas a Folha apurou que um deles deverá ser o soldado Afonso. Como ele, os quatro já presos negam ter participado do crime.
Eles foram reconhecidos por sobreviventes. São os PMs Marcelo Ferreira Cortes (tenente), Marcos Vinicius Borges Emmanuel (soldado) e Cláudio Luiz Andrade dos Santos (soldado) e o serralheiro Jurandir Gomes de França.
Pessimismo
A educadora e artista plática Yvonne Bezerra de Mello, que trabalha há oito anos com meninos e meninas de rua, não está otimista em relação à condenação de qualquer um dos acusados.
Ela teme que os depoimentos das testemunhas não sejam considerados válidos. "Os policiais envolvidos vão acabar alegando que são meninos drogados que não viram direito."
Nova vida
A chacina produziu a esperança de uma nova vida para ao menos um de seus sobreviventes: Carlos Alexandre de Oliveira, 19.
Oliveira era um dos 70 meninos e meninas de rua que costumavam dormir e, algumas vezes, fazer arruaças e roubar nas imediações da igreja da Candelária.
Ele deu sorte. Na madrugada de 23 de julho de 93, não estava no local e escapou da morte. "Foi um alerta. Eu pensei: ou ajeitava minha vida ou seria o próximo."
Fugido de casa, voltou e descobriu que seus pais haviam morrido. Ficou com uma avó e uma tia, e decidiu voltar a estudar.
Completou a quarta série e fez cursos profissionalizantes, como de garçom e cabeleireiro. Entre outras atividades, ajuda a educadora Yvonne Bezerra de Mello em uma creche.

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