São Paulo, domingo, 10 de julho de 1994
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Custoso exagero

DEMIAN FIOCCA

Talvez iludida com o esperado aumento do poder de compra dos setores de baixa renda; talvez desatenta aos espetaculares aumentos do final de junho; talvez pouco sensível à ignóbil tragédia de um salário de US$ 65,00 a equipe econômica errou.
Temendo uma "bolha de consumo", que parece não ter vindo, juros excessivamente altos ameaçam, ao contrário, jogar o país na recessão. O peso da âncora salarial parece ser maior do que o esperado, daí uma âncora monetária que acabou passando da medida.
Juros líquidos de 9% ao mês em dólares, ou 180% ao ano, derrubaram o dólar, alguns preços e também as expectativas de crescimento. Ademais, trazem consigo a suspeita de que a preocupação central do governo esteja apenas nos próximos meses.
Afinal, pagando juros de cerca de US$ 8 bilhões em um único mês, não há qualquer perspectiva possível de equilíbrio fiscal. Pois os juros são reais, já que entre 1º e 31 de julho a inflação deve ficar ao redor de zero, ainda que os índices de inflação de julho captem a subida de preços do final de junho e, por isso, fiquem próximos de 4% ou 5%.
P.S. A proposta do Ministro Ricúpero de negociar reduções de alíquotas para que os oligopólios baixem seus preços fortalece ainda mais empresas cujo grande poder de mercado já é fonte de distorções. Na Argentina, sucessivas concessões aos "poucos e grandes" criaram um mercado onde, por mais alto que esteja, o nível de preços não cai.

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