São Paulo, domingo, 10 de julho de 1994
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EUA tiram vantagem de dólar mais fraco

REGINA CARDEAL
DA REDAÇÃO

A queda do dólar não é assim tão dramática para os Estados Unidos. O recado foi passado pelo próprio presidente Clinton no abertura do encontro do Grupo dos Sete, anteontem, em Nápoles.
A mesma impressão é partilhada pelo mercado mundial de câmbio, que nos últimos dias continuou apostando no avanço do iene japonês sobre a moeda americana.
Poucos no bem-informado mercado acreditam que Washington queira mesmo fazer algo bombástico contra o declínio do dólar –coisa que provoca aplausos dos exportadores norte-americanos.
São aplausos discretos, mas influentes. Foi o setor exportador que indicou a saída para a recessão que, oficialmente, durou de julho de 1990 a março de 1991.
Os saldos recordes de exportação falam por si. No último mês da recessão, em 1991, os norte-americanos já conseguiam vender US$ 34 bilhões ao exterior. Em março passado, exportaram mais de US$ 58 bilhões.
O salto no valor tem a ver com o barateamento dos produtos norte-americanos no exterior provocado pela queda do dólar.
É fundamental para a indústria dos EUA manter o bom desempenho das exportações.
Para se ter uma idéia, mais de 46% dos computadores fabricados no país se destinam ao exterior. E uma parcela de 32% da produção de máquinas industriais vai para fora do país.
Por isso, a defesa verbal do dólar feita há poucos dias pelo secretário do Tesouro, Lloyd Bentsen, não foi suficiente para mudar a maré contra o dólar.
Na quarta-feira, a moeda norte-americana marcou mais um recorde de baixa do pós-Guerra, batendo em 98,30 ienes em Tóquio.
Bentsen tentou convencer os mercados que a Casa Branca não busca baixar o dólar como uma estratégia para melhorar o resultado da balança comercial.
Foi o mesmo Bentsen que detonou o recuo do dólar em fevereiro de 1993 ao expressar o desejo de que o iene subisse para que o superávit comercial do Japão baixasse.
O desejo se materializou. O dólar, que valia 124 ienes, vem em queda livre desde então.
Mudando o rumo das declarações, Bentsen foi veemente quando a intervenção de 17 bancos centrais, no final de junho, não conseguiu segurar o dólar em cem ienes.
"Quero ser bem claro –e falo por todo o governo. O dólar não é um instrumento da nossa política de comércio externo", avisou.
"O dólar mais forte é melhor para nossa economia e melhor para a economia mundial", insistiu.
O problema é que os EUA têm de fazer alguma coisa para diminuir o déficit colossal no comércio com o Japão: quase US$ 60 bilhões só no ano passado.
No Japão, a eficiente indústria exportadora sente o efeito da alta do iene. O encarecimento dos produtos japoneses cotados em dólares no exterior baixa lentamente o superávit comercial do país.
O governo dos EUA, como se espera de qualquer governo, deve pronunciar discursos em favor de sua moeda.
Mais do que coordenar uma ação eficaz em defesa do dólar, os mercados de câmbio sugeriram que Clinton aproveitasse o encontro do Grupo dos Sete para pressionar, de um jeito ou de outro, o Japão a importar mais produtos dos EUA.

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