São Paulo, domingo, 10 de julho de 1994
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Eleições definem o futuro da CEI

ANDREW HIGGINS
DO "THE INDEPENDENT", EM MOSCOU

Trata-se da questão que talvez seja a mais importante desde a queda da União Soviética: estará o império contra-atacando? É esta a pergunta que confronta três componentes eslavos da antiga União Soviética (hoje Comunidade de Estados Independentes) este final de semana, no momento em que dois deles –Ucrânia e Belarus– realizam o segundo turno de suas eleições presidenciais, observados de perto pelo terceiro, a Rússia.
Segundo Ian Brzezinski, assessor do Parlamento ucraniano em Kiev e filho do guru geopolítico de Jimmy Carter, trata-se de decidir se Moscou terá chance de }retraçar a linha Curzon, a antiga fronteira entre a Polônia e a União Soviética. }É a opção entre juntar-se à Europa ou retroceder para uma espécie de abraço eslavo, diz.
Os defensores desta última alternativa variam de Alexander Soljenitsin a Mikhail Gorbatchov. Essas posições deixaram de estar à margem da opinião política russa e hoje são defendidas pelas principais correntes políticas do país.
Belarus e Ucrânia terão oportunidade de demonstrar hoje suas posições. Na Belarus, uma das questões cruciais é quando o país poderá se livrar de sua moeda –o zaichik, ou hare– e trazer de volta o rublo russo, que originalmente tinha valor equivalente –um zaichik valia um rublo–, mas que hoje vale 12 vezes mais. Na Ucrânia o ponto mais importante em questão é o papel da Rússia.
A Ucrânia terá que optar entre o presidente em exercício, Leonid Kravtchuk, um ex-ideólogo do Partido Comunista que defende a soberania ucraniana e gaba-se de sua influência junto a Bill Clinton, e Leonid Kuchma, um ex-primeiro ministro de tendências favoráveis a Moscou.
A disputa é acirrada e só poderá ampliar o fosso existente entre partes da Ucrânia profundamente comprometidas com a independência –as áreas ocidentais, onde a guerrilha nacionalista combateu as tropas soviéticas até a década de 50– e uma zona árida no lado oriental do país, dominada por minas e fábricas construídas sob o governo comunista e cuja população quase inteira fala russo.
A Rússia está preocupada com o custo da reconstrução de um império. Mas no caso da Ucrânia, sua preferência está clara.
A preferência por Kravtchuk na mídia estatal em Kiev é equilibrada pelo apoio dado a Kuchma pela mídia russa, principalmente pela televisão Ostankino, que tem mais espectadores na Ucrânia do que a televisão ucraniana. No verão passado, pesquisa atribuiu a Kravtchuk um índice de aprovação inferior a 5%. O tempo decorrido desde então viu aumentar a miséria econômica, mas comprovou a astúcia de Kravtchuk: ele tem chances de vencer a eleição hoje.
Na Belarus, os dois candidatos remanescentes se mostram nostálgicos da URSS: }Por que o senhor fragmentou o país? Mais de 70% do povo lamenta o que aconteceu, disse Alexander Lukashenko, o vencedor-surpresa do primeiro turno, escarnecendo de seu rival, o premiê Viacheslav Kebich, num debate na TV na quinta-feira.
Os dois candidatos querem livrar-se do zaichik, mas Kebich afirma que só ele possui os contatos necessários em Moscou para fazê-lo rapidamente.

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