São Paulo, domingo, 10 de julho de 1994
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O descasamento

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO – Comparar as pesquisas do Datafolha sobre a sucessão presidencial (publicada quinta-feira) e sobre a eleição em São Paulo (divulgada sábado) equivale a enterrar a hipótese de um voto casado.
Voto casado seria o eleitor de, digamos, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para a Presidência votar também em José Dirceu, do mesmo partido, para o governo do Estado.
Na pesquisa presidencial, entre os eleitores de São Paulo, Fernando Henrique Cardoso (PSDB) subiu dois pontos percentuais, ainda dentro da margem de erro, mas subiu. Já Lula caiu cinco pontos, fora da margem de erro, que é de dois pontos percentuais em cada candidatura.
Pois bem, na pesquisa sobre o pleito estadual paulista, ocorreu o fenômeno exatamente inverso. Quem caiu foi o candidato do PSDB, Mário Covas. Recuou 11 pontos percentuais, bem acima, portanto, da margem de erro. E o único que subiu fora dessa margem foi justamente o petista José Dirceu (de 4% para 7%).
Não parece haver, portanto, um movimento generalizado que carregue na mesma direção, para cima ou para baixo, cada um dos candidatos do mesmo partido.
Há outro elemento que aponta no rumo do descasamento dos votos. Apenas um de cada cinco paulistas que têm a intenção de votar em Lula "casa" o voto, escolhendo também José Dirceu.
Mesmo no caso dos "fernandohenriquistas", aparece um descasamento, ainda que substancialmente inferior. Mas, de qualquer forma, apenas dois terços dos eleitores em potencial de FHC dão o seu voto a Covas em São Paulo. O restante se dispersa.
Por enquanto, pelo menos, a primeira eleição geral do Brasil urbano não está sendo tão geral assim. Na verdade, o que as pesquisas desenham é menos uma eleição geral e mais um conjunto de 28 eleições separadas, uma para presidente e as demais para os governos estaduais, sem que o voto em uma puxe tão fortemente como se imaginava a decisão sobre a outra.

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